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Leis Judaicas / Talmud Pensamento Judaico

Como o judaísmo enxerga o extremismo?

Apesar de todas as ações e rumores que afirmam o contrário, o judaísmo abomina o extremismo. Os grandes sábios e mestres de Israel sempre pregaram a moderação como regra de ouro e sempre se manter no meio termo. O Talmud de Jerusalém compara as escolhas humanas no comportamento e na vida, nas atitudes e na filosofia, a uma pessoa que tem de escolher entre duas estradas. Uma está ensolarada, mas é quente como um deserto ao meio-dia. A outra esta coberta de neve e tem uma temperatura extremamente baixa.

Se a pessoa seguir a estrada ensolarada, poderá morrer prostrada pelo calor. Se seguir pela outra estrada, poderá congelar e morrer. O que ela deve fazer então? Deve procurar (escavar) uma terceira estrada, uma que não seja quente demais, e sim, moderada na temperatura e condições que não sejam extremas. O Talmud de Jerusalém usa essa metáfora para a vida em geral e para a vida judaica em particular.

Extremos de comportamento e fervor religiosos são negativos e danosos. Pode-se ter o sentimento de que o extremismo serve aos propósitos Divinos na terra. Porém, a Torá ensina que isso não é verdade. O caminho do meio – na vida e no comportamento, nos traços de caráter e no estilo de vida – é a escolha preferida pela Torá e pela tradição rabínica. O Maimônides chamava o caminho do meio na vida de “caminho de ouro”. Na opinião dele, era permitido ser extremista para conseguir voltar ao “caminho de ouro”.

O extremismo nega a tolerância, incentiva o ódio e traz à tona abusos verbais e físicos e, inevitavelmente, também violência. É contraproducente para seus próprios objetivos e, eventualmente, depois de cobrar um preço elevado em sentimentos humanos, reputações e mesmo vidas humanas, colapsa por seus próprios descaminhos. Mas, em vez de aprender essa clara lição da história, o extremismo permanece vivo em muitos setores do nosso mundo judaico, para não mencionar a sociedade humana em geral.

Há uma grande atração pelo extremismo. Ele provê certezas num mundo cheio de incertezas e dá ao ódio, preconceitos e frustrações uma escora moral. Por isso, o extremismo é muito popular. É muito mais difícil manter e popularizar a moderação, uma vez que ela não promete respostas fáceis às complexidades da vida que enfrentamos. Extremismo na religião apela especialmente a quem está convencido de estar cumprindo os propósitos de Deus na vida de uma maneia completa. Tem também como subproduto a racionalidade da exclusividade. Dessa forma, todos os outros, no mundo inteiro, estão errados, são culpados e estão condenados, exceto os extremistas que sabem exatamente qual é a vontade de Deus naquele assunto específico.

Qualquer pessoa que enxerga as coisas de forma diferente, mesmo ligeiramente diferente, é um herético condenado. Como nos provam diariamente os extremista muçulmanos, que consideram que lhes é permitido matar ou aleijar esses heréticos. O extremismo permite que se justifiquem e exaltem os piores crimes, porque apaga qualquer tipo de proporção em relação à vida humana, subverte o senso comum, o pensamento racional e o comportamento aceitável.

O senador Barry Goldwater, em seu discurso de aceitação da designação como candidato presidencial na Convenção Nacional Republicana em 1964, destruiu qualquer esperança de ser eleito quando afirmou que “extremismo pela causa da democracia é uma virtude”. Essa afirmação foi suficiente para atemorizar muitos potenciais eleitores. A trágica verdade é que o extremismo em defesa de uma causa justa faz, muitas vezes, com que meios injustos sejam usados.

Por isso, é importante a desaprovação total dos sábios quanto a habá beaverá – cumprir-se um mandamento positivo da Torá através do cometimento de um pecado ou ato imoral. A Torá ensina que a retidão como objetivo só pode ser cumprida por meios retos. Os zelotes e extremistas conspurcam esse princípio da Torá e, assim, envenenam a atmosfera da vida de todos nós. A recente derrocada de extremistas judeus numa conferência sobre a negação do Holocausto em Teerã é prova disso.

O Maimônides permite extremismo apenas em duas áreas da vida. Uma delas é na humildade. Não há limite para a humildade porque arrogância e falso orgulho criam pessoas e situações monstruosas. Moisés não é louvado na Torá por sua força, intelecto ou mesmo habilidade de liderança, mas somente por sua humildade – por ser um verdadeiro servo de Deus. E a segunda é no controle da raiva. Os sábios ensinaram que quando uma pessoa perde seu temperamento e se torna raivoso, ele “não tem Deus”. Palavras faladas e ações cometidas durante a raiva são letais nos relacionamentos, nas famílias, comunidades e até nações. Por isso, devemos ser extremamente cuidadosos para evitar explosões de raiva. Mas na vida, de modo radical e de maneira extrema, devemos evitar os extremismos.

 


Trecho extraído do livro ECOS DO SINAI- Uma viagem pelo calendário judaico
Autor: Berel Wein
Editora Sêfer
Páginas: 261

O rabino e historiador Berel Wein escreve semanalmente no Jerusalem Post sobre temas da “parashá” semanal da Torá e comenta o cotidiano de Israel. Este livro reúne alguns desses textos que mesclam conhecimento bíblico profundo, mas de leitura agradável, com insights para o homem moderno de qualquer religião.

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