Brevíssima coletânea de comentários sobre a Porção VAYSHLACH extraída da obra Torá Interpretada à luz dos comentários do Rabino Samson Raphael Hirsch, recém-publicada pela Editora Sêfer
Gênesis, Capítulo 32
23 E levantou-se naquela noite, e tomou suas duas mulheres, suas duas servas e seus 11 filhos, e cruzou a passagem do rio Iaboc. 24 E tomou-os, e os fez passar o ribeiro, e fez passar o que era dele. 25 E Jacob ficou só, e lutou um homem com ele até levantar-se a aurora. 26 E viu que não podia com ele, e tocou-lhe na juntura de sua coxa, e desconjuntou-se a juntura da coxa de Jacob em sua luta com ele. 27 E disse: Envia-me, porque vem rompendo a aurora! – e disse: Não te deixarei ir, salvo se me abençoares! 28 E disse-lhe: Qual é teu nome? – e disse: Jacob. 29 E disse: Não será mais dito que o teu nome é Jacob, senão Israel, por teres te tornado um poder de comando diante de Deus e dos homens, uma vez que prevaleceste. 30 E Jacob perguntou e disse: Dize-me, rogo, teu nome – e ele respondeu: Por que é que perguntas meu nome? – e ali o abençoou. 31E Jacob chamou o nome do lugar de Peniel (‘Face de Deus’) porque vi o Divino face a face, e minha alma foi salva. 32 E o sol nasceu para ele quando passou de Penuel, e ele mancava de sua coxa. 33 Por isso os filhos de Israel não comem o tendão encolhido que está sobre a juntura da coxa até este dia, pois (o anjo) tocou na juntura da coxa de Jacob, no tendão encolhido.
- E levantou-se naquela noite. Inicialmente, Jacob planejava pernoitar do outro lado do rio Iaboc, para cruzá-lo apenas no dia seguinte. Entretanto, como a sua ansiedade não lhe deu trégua, ele despertou no meio da noite e atravessou o rio com a sua família antes do amanhecer.
- E Jacob ficou só. Segundo os nossos sábios (TB Chulin 91a), depois de Jacob ter conduzido a sua família ao outro lado do rio, ele retornou sozinho ao lugar em que estava o seu acampamento para verificar se não havia esquecido alguma quinquilharia, de modo que concluíram daqui que “os pertences dos justos são mais caros a eles do que o seu próprio corpo, já que não lançam sua mão em roubos”. Aprendemos daqui que um bem adquirido por um justo, por menor que ele seja, passa a ser sagrado aos seus olhos. Ele não despreza um pertence, nem o descarta desnecessariamente e não deixa de se responsabilizar para que ele seja utilizado corretamente. Aos seus olhos, um grande tesouro deve ser investido com a mesma facilidade com que se desprende de um cadarço de sapatos quando há a necessidade de empenhá-lo em prol de uma causa nobre, do mesmo modo que um cadarço tem o mesmo valor de um grande tesouro quando é desperdiçado sem um motivo plausível. Quem não se apropria do que não é seu, e só toma posse das coisas pelas vias corretas e legais, tende a enxergar a bondade Divina em cada um dos seus pertences, afinal não há nada em suas mãos que não veio pela bênção de Deus e por meio do seu esforço e suor, tendo portanto um valor inestimável.
só. Naqueles momentos de extrema tensão, Jacob comparava a força dos poucos homens que o acompanhavam frente o desproporcional exército de 400 homens de Esaú. Em meio a estes pensamentos de profundo desalento, reverberou em seu coração a prece que havia proferido anteriormente (32:12): “Livra-me, rogo, da mão de meu irmão, da mão de Esaú” – e que ainda não havia sido respondida por Deus. Os nossos sábios apontaram esse versículo da oração de Jacob como a terceira citação na relação de cinco versículos em que cada umas das “letras finais” do nosso alfabeto são aludidas pela Escritura num contexto relacionado à redenção do nosso povo, conforme explicamos acima (26:16). Assim, ao invés de externar um dos momentos de glória e de apoteose da redenção, trata-se de um versículo que retrata os momentos de extremo desespero que hão de anteceder e causar a nossa salvação, dada a sua vocação de despontar justamente em meio às situações mais desesperadoras. O mesmo aconteceu com Jacob naquele momento: a resposta de sua oração veio por intermédio do embate que teve com um homem misterioso quando se encontrava completamente sozinho e imaginava que não havia mais saída para essa sua situação. O evento relatado no presente versículo colocou Jacob numa circunstância em que os seus únicos recursos eram aqueles contidos em sua personalidade.
e lutou um homem com ele. Esta é a única vez em toda a Escritura que aparece a expressão vaieavêc im (e lutou com). De todo modo, a raiz de vaieavêc (e lutou) vem do termo avác (pó) que, diferentemente da palavra afár (terra), que é próxima de ór (pele) e indica a camada superficial da terra, remete às partículas mínimas de matéria terrena que, de tão pequenas, esvaem-se completamente quando são movidas do solo em que estão. Assim, o versículo nos informa que Jacob e o seu oponente travaram uma luta em que cada um tentava tirar o outro de seu lugar e transformá-lo em pó. Aproveitando-se do motivo do “pó” contido no termo vaieavêc (e lutou), os nossos sábios disseram (TB Chulin 91a) que “o pó levantado pelas batidas de pé naquela luta chegou até o Trono Divino”, como forma de expressar a importância daquela luta, que seria um arquétipo do grande embate que haveria de perdurar para sempre, configurando-se como o resumo e o conteúdo de toda a história humana.
até levantar-se a aurora. O termo sháchar (aurora) indica o início da manhã, quando os objetos já podem ser encontrados, ainda que com algum esforço. A luta que Jacob travou com o seu oponente naquela noite perdurou até a aurora, e isso veio ensinar a Jacob que, enquanto a noite vigorasse sobre a terra, ou seja, enquanto o reconhecimento humano da realidade estivesse ofuscado, dificultando o correto entendimento sobre a vida, Jacob deveria saber que precisaria lidar com um estado de dificuldades e obstáculos. A sua redenção viria apenas com a luz do dia, e daí o caráter soturno de seu oponente que apenas podia se contrapor a Jacob enquanto a noite perdurasse.
De acordo com os nossos sábios (Bereshit Rabá 77:3), o homem que lutava contra Jacob encarnava um anjo que servia como “ministro celestial de Esaú”. Em outras palavras, a luta de Jacob foi contra a figura amedrontadora de um Esaú genial e espirituoso vestido de realeza, com um bastão em suas mãos e empunhando a sua arma – até que se esvaísse toda a escuridão da noite sobre a terra. E de fato, num eco desta percepção, de que não se tratava de uma pessoa normal, quando Jacob resumiu este acontecimento adiante (versículo 31), ele disse: “vi o Divino face a face, e minha alma foi salva.”
- e tocou-lhe. A forma com que o verbo vayigá bê (e tocou-lhe) encontra a sua transição neste versículo indica um toque indevido, como o toque do impuro sobre o puro, e assim por diante. Em muitas citações, inclusive, esta expressão remete ao ato de agarrar alguém com violência e brutalidade.
e desconjuntou-se a juntura da coxa de Jacob. O oponente de Jacob causou o desligamento do músculo que controla o movimento do fêmur e que é responsável por fazer a pessoa andar e ficar de pé. O homem que lutou com Jacob pretendia levantá-lo da terra a fim de lançá-lo violentamente contra a terra; quando viu que não conseguiria, ele agarrou a coxa de Jacob, que por sua vez tentou se desvencilhar do agarramento de seu oponente, momento em que o músculo se desprendeu de suas veias, e isso lhe causou a perda do controle de sua perna e o deixou manco. Durante toda aquela luta noturna, o contendor de Jacob tentou tirá-lo do solo e impossibilitar a sua vida sobre a terra. Isso ele não conseguiu, mas teve sucesso em enfraquecer a força física de Jacob, impedindo-o de usar todos os seus recursos naturais para seguir adiante em seu caminho.
- Envia-me. Como dissemos, o homem que lutou com Jacob poderia seguir em combate apenas enquanto a noite predominava sobre a terra, quando parecia estar por cima de Jacob, quiçá como vitorioso. Todavia, com a chegada da manhã, as posições se inverteram e Jacob passou a deter as condições para finalizar o embate em seus termos. E a condição que Jacob estipulou para que o seu contendor fosse liberado, o que na prática era o propósito de todo este embate, previa o pleno reconhecimento de que Jacob era digno de ser abençoado, e que não deveria ser objeto de ódio e da hostilidade dos demais. E de fato, será apenas depois deste reconhecimento que os povos ganharão a sua bênção de Deus, conforme foi dito acima (28:14): “e por meio de ti (…) serão benditas todas as famílias da terra.”
Não te deixarei ir. Assim Jacob disse ao seu oponente: “Tu me atacaste durante toda a noite; aos teus olhos eu era um obstáculo que deveria ser removido e exterminado por meio de uma luta incessante. Agora, quando a aurora subiu, tu queres um cessar-fogo, mas eu não cessarei de lutar até que tu me dês uma bênção e um reconhecimento.” Ao nosso ver, esta resposta de Jacob enseja o ensinamento de que o propósito e o destino da história não é forçar a assimilação dos judeus entre os povos, mas pelo contrário, os judeus devem pleitear que os demais povos entendam que a felicidade geral está condicionada ao cumprimento daqueles princípios que Jacob se apegou a eles em todas as suas lutas. Os povos também precisam ambicionar humildemente alcançar tais valores, fomentá-los de todas as formas disponíveis e enxergarem neles o seu único objetivo.
- E disse: Não será mais dito que o teu nome é Jacob, senão Israel. Ele não disse que “Tu não serás mais chamado de Jacob”, pois a mudança do nome dele virá a acontecer apenas mais adiante (35:10), quando Deus disser: “Não serás mais chamado Jacob, e sim Israel será teu nome.” Deste modo, devemos interpretar que o oponente de Jacob sugeriu apenas uma ressignificação do nome dele: ele não mais sinalizaria um sujeito destinado a segurar o calcanhar do seu irmão, e sim, passaria a estar associado à posição de quem, como Jacob, se tornou “um poder de comando diante de Deus e dos homens” ao prevalecer na luta com o seu oponente.
por teres te tornado um poder de comando diante de Deus e dos homens. Para entendermos melhor o processo desta ressignificação, devemos lembrar que a raiz de “Israel” vem do termo sar (ministro), palavra que denota uma das posições de poder de quem está por sobre o povo. Desta forma, o termo “Israel” aponta para o estado em que Deus (El) ascende sobre todos e subjuga a tudo de acordo com a Sua vontade. Nesse sentido, quando Jacob deixa de estar fadado a ser pisado pelos calcanhares de todos os demais, como o seu nome sugeria até então, e passa a obter vitórias contra os ataques perversos de seus inimigos, então o próprio sucesso de “Jacob” passa a apontar ao estado de coisas designado como “Israel” no qual a regência de Deus fica nítida e revelada. Numa das expressões da regência de Deus, povos mais fracos conseguem sobreviver contra as expectativas e apesar de serem perseguidos impiedosamente por seus inimigos. Portanto, enquanto “Jacob” existir, ele servirá como um significante ao estado de “Israel”, sendo este o novo significado do seu nome e da sua própria existência.
uma vez que prevaleceste. Nas palavras do oponente de Jacob, “tu conseguiste tudo que quiseste, mas eu não, pois eu quis te jogar ao solo e não consegui; tu quiseste se manter de pé e não ser derrubado, e tu conseguiste”. E assim permanece a relação entre Jacob e Esaú até hoje: Esaú declara que “Não há salvação além de mim” em tudo que tange os assuntos de política e religião, enxergando na simples existência de alguém como Jacob – que apenas reivindica a oportunidade de também participar do desenvolvimento do mundo – uma ameaça existencial. Jacob, por sua vez, busca a coexistência com todos os valores puramente humanos, estando pronto a ajudar os demais valores a florescerem e a lhes conferir ainda mais importância em caso de estarem dispostos a captar também determinados fragmentos do seu espírito. Em suma, a única demanda de Jacob na sua luta com Esaú é a obtenção de “bênção e reconhecimento”. Nesse sentido, não é demais lembrar que desde o início deste relato foi dito que “lutou um homem com ele”, ou seja, não foi Jacob que iniciou a luta, mas sim, que ele apenas entrou na luta para se defender.
- Por que é que perguntas meu nome? O oponente de Jacob relutou em informar o seu nome haja vista que, “ao romper da aurora”, todos os nomes ficarão escuros e apagados em face do único nome que perdurará, como foi dito (Zacarias 14:9): “Naquele dia, o Eterno será um e Seu nome, um.” E naquele dia por vir, o único povo que contará com o Seu nome será aquele descendente de Abrahão
que, em seu tempo, foi o único ser humano a passar ao largo da aglomeração que se reuniu com o intuito de (11:4) “Faremos para nós fama”, e que por isso recebeu a bênção de que (12:2) “engrandecerei teu nome”.
e ali o abençoou. De certa forma, fica implícito que a bênção do oponente de Jacob ficou restrita àquele lugar (“ali”). Desta forma, podemos entender que o arremate deste versículo veio indicar que Jacob logrou o recebimento daquela bênção justamente quando se encontrava na fronteira de sua futura terra em seu caminho independente de retorno às suas origens e rumo ao destino e ao desenvolvimento do espírito de Abrahão. E assim também os descendentes de Jacob hão de alcançar a bênção e o reconhecimento dos demais povos: não por meio de sua assimilação geral e irrestrita em meio a todos os povos, mas justamente quando estiverem “ali” e retornarem completamente ao seu propósito e à sua soberania sobre a Terra de Israel, que há de ser eterna.
- vi o Divino face a face. Jacob reconheceu o fundamento Divino presente no homem com o qual havia lutado, fazendo questão de não desmerecer o seu valor e a sua missão dada por Deus. Os nossos sábios (TB Chulin 91b) disseram que Jacob perguntou ao homem: “Tu és um ladrão? Um assassino? Por que tens medo do amanhecer?”, no que ele respondeu: “Não, eu sou um anjo, e desde o dia que fui criado, não era chegada a hora para eu entoar um cântico a Deus, até o dia de hoje.” Todavia, a missão desse anjo apenas estará completa quando “o maior servirá o menor” (acima 25:23), momento em que ele será chamado a apor a sua voz num cântico de todas as gerações e a tomar o seu devido lugar para, assim, incluir as suas notas ao som que progredirá e se elevará harmonicamente numa sinfonia como cântico de louvor a Deus, cuja letra é o próprio relato da história da humanidade.
De todo modo, a identificação que Jacob deu àquele homem como um anjo de Deus revela que Jacob entendeu que a figura genial e espirituosa de Esaú que ele enfrentara não deixava de ser uma criação Divina – ou, em outras palavras, um “anjo de Deus”.*
* A caracterização do oponente de Jacob como sendo a incorporação de uma imagem que Jacob tinha de seu irmão pode oferecer uma nova luz em toda a linha interpretativa adotada pelo Rabino Hirsch neste episódio. Por essa leitura, antes de enfrentar o verdadeiro Esaú, Jacob precisava desconstruir e desmistificar a figura de Esaú em sua mente, pois a imagem de seu irmão havia se tornado um monstro que o assombrava cada vez mais em seus momentos “noturnos”. Como Jacob não tinha outra escapatória, ele enfrentou e superou o monstro que o atormentava. Todavia, depois de tudo isso, Jacob sentiu a necessidade de entender o processo que o levou a tal situação e conhecer melhor a natureza do seu “monstro”, motivo pelo qual se voltou diretamente a ele e lhe perguntou qual era o nome dele, para assim diagnosticar também a si mesmo e se certificar de sua sanidade e equilíbrio. E embora Jacob não tenha obtido uma resposta direta e empírica, ele entendeu que aquela figura se tratava de uma revelação do Divino – ou, nas palavras dos nossos sábios, de um “anjo”. Ou seja, Jacob compreendeu que a imagem que ele tinha de Esaú não era a de um monstro criado exclusivamente em sua cabeça em alguma espécie de loucura ou esquizofrenia, mas se tratava de uma criação de Deus, eventualmente advinda e lastreada na realidade em que Jacob estava inserido. Sendo assim, Jacob não deveria se penalizar por seu aparecimento, e embora não devesse reprimir e sufocar o monstro e o consequente medo que gerava, ele também não precisava mantê-lo junto de si até descobrir o seu verdadeiro “nome”; era preciso deixar o monstro ir embora uma vez que ele já havia aprendido a melhor forma de conter e acomodar os seus medos e os ímpetos de seu oponente. Finalmente, Jacob ganhou a bênção e o reconhecimento daquela criatura, e assim ele pôde sair de sua imobilidade e seguir adiante em seu caminho de forma segura e altiva para então encontrar o verdadeiro Esaú. (N. do T.)
- E o sol nasceu para ele. Como os nossos sábios pontuaram (TB Chulin 91b), há 20 anos, quando Jacob deixou a casa dos seus pais, ele precisou dormir na divisa da sua terra (acima 28:11) “porque o sol havia se posto” e um período de trevas iniciava-se em sua vida. Agora, ao retornar à sua casa, “o sol nasceu para ele” ao obter uma vitória tão importante e significativa que o deixou com ótimos presságios em relação ao futuro.
- Por isso os filhos de Israel não comem. A memória deste episódio de Jacob foi eternizada através da proibição de se ingerir o “tendão encolhido que está sobre a juntura da coxa”. Entretanto, é claro que o objetivo desta proibição não é apenas informar que Jacob ficou manco por conta de um embate corporal, bem como ninguém imagina que a obrigação de se comer matsá na festa de Pêssach tenha vindo exclusivamente para nos ensinar a natureza do alimento dos nossos antepassados durante o Êxodo do Egito. Ambos os fatos têm uma importância menor por si só, de modo que a sua eternização por meio de um mandamento deve ser entendida como um ensejo à apreensão e constante revisitação de ensinamentos muito pertinentes ao nosso propósito e destino enquanto povo e nação.
Desta feita, podemos dizer que o mandamento de lembrarmos que a ferida deixada pelo “anjo de Esaú” na perna de Jacob tem o significado de representar a sina que o nosso povo tem de percorrer os mais variados caminhos da história sem poder se apoiar sobre todas as suas pernas e sem estar completamente estável e equilibrado. Entretanto, é justamente a instabilidade de Jacob que deveria abrir os olhos de Esaú sobre a natureza do povo do seu irmão. Caso Jacob também estivesse à frente de 400 homens, eis que a sua sobrevivência não revelaria a interferência Divina nos devires da história.
Por este motivo, a fim de ressaltar a participação de Deus no desenrolar de sua história, os filhos de Jacob, cuja simples existência é um sinal da regência Divina no mundo justamente por serem os mais fracos, não devem comer o tendão do animal que representa a subjugação e a fraqueza material que caracterizam a sua trajetória. A cada vez que os filhos de Israel se sentarem para comer, eles estarão expostos à seguinte advertência aprendida de um dos episódios da sua trajetória: cabe a eles abrir mão voluntariamente daquele pedaço de carne que simboliza a força material dada a Esaú.
Não cabe aos judeus pensar que a sua sobrevivência se deve a um tipo específico de força, bem como não devem enxergar a si mesmos como desprotegidos por não estarem armados com as mesmas espadas que Esaú e por não poderem caminhar pela terra com a mesma desenvoltura que o fazem os filhos de Esaú. A força de Jacob vem de outros lugares, mais elevados, que inclusive não são alcançados pela espada de Esaú. Quando Jacob sofre uma queda, isso não se dá pela limitação da sua força, mas porque não fez o necessário para obter a proteção Divina. Por outro lado, quando Israel se mostra forte e resistente, isso não se dá devido à sua força física e material, mas porque Deus o alça em Suas asas com a Sua força infinita.
até este dia. A menção “até este dia” não se refere à época do redator, mas ao “dia” em que o leitor estiver lendo, ou seja, enquanto este texto estiver sendo lido – para sempre. O mesmo é válido sobre o que foi dito sobre o falecimento de Moisés (DT 34:6): “E ninguém soube até hoje o lugar da sua sepultura.”
Brevíssima coletânea de comentários sobre a Porção VAYSHLACH extraída da obra Torá Interpretada à luz dos comentários do Rabino Samson Raphael Hirsch, recém-publicada pela Editora Sêfer.