Tem sido geralmente atribuÃda aos profetas e visionários da BÃblia Hebraica a descoberta do monoteÃsmo – a ideia da existência de um único Deus. Essa é, acredito, uma descoberta menos significativa do que esta outra: Deus é pessoal, e existe alguma coisa no âmago da realidade que responde e afirma a nossa existência como pessoas. O universo é mais do que bilhões de galáxias rodando silenciosamente no espaço. Não somos simples poeira cósmica na superfÃcie da eternidade. Estamos aqui porque alguém assim o quis. Deus não criou o universo como um cientista no laboratório, ou um tecnocrata pondo em movimento o big bang, mas como um pai ou uma mãe dando à luz um filho. O universo não é indiferente nem hostil à nossa existência. Esse foi o grande salto da imaginação bÃblica.
No centro da ideia de perdão está a noção de amor – não um amor abstrato, mas uma ligação real e concreta de um ser a outro. O amor distingue entre a pessoa e o ato. Um ato pode ser mau, mas como a pessoa é livre não está inevitavelmente ligada a esse mal. Fazer mal danifica as estruturas do nosso mundo. Cria uma injustiça. Estraga as relações. Mas essas coisas podem ser reparadas. O mal pode ser reparado e as ofensas curadas. Quando quem agiu mal revela remorsos, pede desculpas e decide não repetir o mal, e prova que deixou de se identificar com o feito. O perdão é, e só pode ser, uma relação entre pessoas livres: entre o perdoado, capaz de mostrar que pode mudar, e quem perdoa e tem fé em que a outra pessoa mude. A liberdade – ou a capacidade de agir de forma não preestabelecida – é a negação da tragédia.
O modelo do perdão é o amor entre pais e filhos. Os pais sabem que as crianças podem cometer erros. O verdadeiro sentimento paternal é ter boa vontade para, em algum momento, aceitar que os filhos cometam erros porque isso ajuda as crianças a se tornar adultas e responsáveis. O perdão é essa aceitação, pois significa que a criança se sente segura sabendo que o seu erro não é definitivo, e errar não é o fim de uma relação. Não por acaso a palavra hebraica rachamim, (misericórdia ou capacidade de perdoar), vem da palavra réchem, isto é, útero ou ventre. O juiz encarregado de administrar a lei não pode perdoar, mas os pais podem. O conceito de perdão começa a existir quando Deus é visto simultaneamente como juiz e pai e quando a lei e o amor, a justiça e a misericórdia, dão-se as mãos. Deus perdoa, e ao fazê-lo nos ensina a perdoar.
Conheça o Rabino Jonathan Sacks, o Rabino do Mundo
Trecho extraÃdo da obra A dignidade da diferença, Como evitar o choque de civilizações
Autor: Jonathan Sacks
Editora Sêfer
Páginas: 228
O Rabino Lord Jonathan Sacks, um dos mais admirados pensadores religiosos de nossa época, faz um apelo em favor da tolerância em uma era de radicalismos. É claro e evidente o perigo para a humanidade no uso de justificativas religiosas para o terrorismo. Junto com as armas de destruição em massa, também as atitudes religiosas radicais ameaçam a segurança vital na Terra. Devemos aprender a nos sentir engrandecidos, e não ameaçados pela diferença.
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