fbpx
Contos e parábolas

Pequenos Milagres Judaicos X

de Yitta Halberstam e Judith Leventhal

 

Eu via rosas florescerem do lado de fora da janela da minha cozinha por quinze anos. Eu amava sua magnífica
beleza, mas eu nunca cortava as flores para levar para dentro de casa. Por mais estranho que isso possa parecer,
elas viviam somente por alguns dias a cada estação, antes de as pétalas começarem a cair no chão e as flores
desaparecerem.
Durante um verão, houve uma seca e nenhuma das minhas rosas floresceu, já que elas precisam de muita água.
Além disso, eu fora negligente em regá-las, pois estava consumida pela tristeza. Minha amada mãe – minha amiga,
minha mestra, minha confidente – enfrentava uma doença terminal já havia vários meses e eu me sentia impotente e
de coração partido. Finalmente, em um árido dia do mês de junho, o inevitável aconteceu: minha querida mãe
morreu.
No dia do enterro, o solo estava ressecado pela temperatura que alcançava os trinta e oito graus. Quando voltei
para casa, fui recebida, do lado de fora da janela da minha cozinha, pela maior e mais bela rosa que eu já vira. Além
de magnífica, a rosa era enorme! Um espécime tão perfeito jamais teria crescido tanto sem chamar nossa tenção.
Hoje, tenho certeza, assim como tinha na época, de que a rosa não estava ali antes do enterro da minha mãe. Ela
apareceu, como em um passe de mágica, naquele arbusto do lado de fora da minha cozinha, depois que minha mãe
foi posta em seu repouso.
Todos aqueles que vieram prestar condolências na semana seguinte ao enterro ficaram maravilhados com o
tamanho e a beleza da rosa. Todos os dias, pela manhã, eu olhava pela janela, esperando ver pétalas vermelhas
espalhadas pelo chão; mas a flor continuava intacta. Não caiu uma pétala sequer durante aquela semana ou na
seguinte, nem mesmo por todo o mês seguinte ao da morte de minha mãe.
Em um daqueles dias quentes, quase desérticos, enquanto eu estava sentada no quintal com meu filho e minha
filha, a flor e o caule começaram a se curvar bem diante de nossos olhos. Nós logo percebemos que nenhum outro
galho estava se movendo; o vento não soprava; as folhas da grama não se moviam. Ficamos admirados, com medo
de respirar e acabar com aquela cena encantadora. Então, um dos meus filhos disse, baixinho:
— Acho que a vovó está nos dizendo alguma coisa. Vamos tentar entender.
Quando descrevi o incidente para um amigo, que é rabino, ele me explicou que os milagres acontecem conosco
todos os dias, que Deus sempre nos manda mensagens por meio da natureza, mas que devemos estar abertos para
poder recebê-las. Ele me disse, certeiro:
— Certamente aquela rosa era uma mensageira de sua mãe. Ela está lhe dizendo para não se preocupar, pois ela
está bem agora, em um lugar de beleza e esplendor.
E foi assim que aquela rosa continuou a viver, espalhando beleza e evocando memórias. Quando finalmente
chegou a sua hora de partir, após oito reconfortantes meses, as pétalas não caíram, uma a uma, como de costume.
A rosa se enrugou lentamente, ficou preta e permaneceu totalmente intacta até morrer. E lá ela ficou, em seu caule,
até meu jardineiro aparar a roseira e arrancá-la fora.
Eu havia me esquecido de lhe contar sobre minha amada mãe e sua mensagem especial naquela rosa
miraculosa. Eu sempre penso no que teria acontecido à rosa caso o jardineiro tivesse deixado a natureza seguir o
seu percurso.

Gail Raab

Comentário

Comentário