É muito comum hoje em dia ver pessoas utilizarem candelabros com oito braços retos (e não curvos) na Festa de Chanucá, que celebra a reinauguração do Templo na época do macabeus. E se acende essa Chanukiá em lembrança à Menorá de sete braços do Templo. Aí surge a pergunta: E por acaso a Menorá do Templo tinha braços retos, e não arredondados? De onde surgiu isso?
A resposta está relacionada a um achado importante feito em nossa geração: um manuscrito do Comentário do Maimônides sobre a Mishná (Menachót 3:7) com um esboço desenhado por ele mesmo de um Candelabro de braços retos. Essa descoberta gerou um acalorado debate entre os estudiosos: será que a pretensão dele era retratar o Candelabro exatamente como era ou simplesmente desenhar sua estrutura geral, sem se focar na questão dos braços – se eram arredondados ou retos?
O fato é que há outros desenhos e representações do Candelabro do Segundo Templo feitos por pessoas que realmente o viram – e em todos eles os ramos são arredondados. Entre eles, há a imagem do Candelabro no Arco de Tito, em Roma, assim como uma moeda da época do rei hasmoneu Matitiáhu Antígonos. Além disso, a descrição do Candelabro nos escritos do historiador Flávio Josefo e outras descobertas antigas indicam que os braços do Candelabro eram arredondados!
A questão mais intrigante é essa: Será que, na opinião do Maimônides, os ramos do Candelabro eram retos? E, se sim, por quê? Após uma inspeção mais detalhada, descobriu-se que o esboço desenhado pelo Maimônides é bastante simplista e geral, e que ele mesmo escrevera que aquilo era apenas para “mostrar sua forma geral”. Ele também escreveu que não pretendia retratar com precisão os cálices, botões e flores do Candelabro, uma vez que já havia explicado isso em sua obra Mishnê Torá, e que sua intenção, ao fazer esse esboço, era apenas mostrar onde esses itens ficavam no corpo do Candelabro.
O Mishnê Torá é uma coleção 14 de livros escrita pelo legislador e filósofo mediavel Maimônides, também conhecido como Rambam ou Rabi Moshe ben Maimon. É uma compilação de todas as opiniões então existentes sobre a halachá (lei judaica), a partir do Talmud e dos sábios porteriores. O volume 2 do Mishnê Torá traz a segunda parte do Sêfer Hamadá – Livro do Conhecimento -, que trata dos conhecimentos básicos da Torá relacionados a fé judaica.
Para tal, ele definiu uma “chave”, desenhando círculos para os botões, semicírculos para retratar as flores e triângulos para representar os cálices, posicionando-os ao longo das linhas que representavam os ramos. Seu propósito, escreve ele, era “simplificar o desenho” – ou seja, permitir que quem quer que viesse a copiar seus manuscritos pudesse desenhar o Candelabro com o máximo de rapidez.
Por outro lado, o saudoso Rebe de Lubavitch sustentava que o desenho do Maimônides era preciso, que os braços eram realmente retos, e não arredondados, e que os cálices eram realmente em forma de triângulo, com a abertura voltada para baixo.
Esse tópico foi objeto de um projeto de pesquisa do Instituto do Templo. Uma de suas conclusões foi que, de acordo com a lei judaica, seria aceitável construir o Candelabro de qualquer maneira, e que os braços podem ser retos ou arredondados. Portanto, o Candelabro do Instituto do Templo foi moldado com braços arredondados, de acordo com as descobertas atuais do período do Segundo Templo – e não de braços retos, de acordo com o esboço “simplificado” do Maimônides.
Trecho extraído da obra O Templo Sagrado de Jerusalém, recém-publicada pela Editora Sêfer.