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Institucional

Uma mensagem de Chanucá da Editora Sêfer

No primeiro capítulo da nova e belíssima edição de “A Ética do Sinai”, da Editora Sêfer, obra que apresenta de forma clara e precisa os ensinamentos éticos e morais do sábios do Talmud compilados no tratado chamado de “Ética dos Pais” (Pirkê Avót), encontramos logo na página 49 uma linda máxima de Shimon, o Justo, que viveu por volta do século 3 antes da era comum:

“O mundo se mantém sobre três coisas:
a Torá, o serviço Divino e a beneficência.”

Em seu testamento, o Rabi Iehudá Hanassi – Judá, o Príncipe, o homem que realizou a hercúlea missão de compilar a Mishná no final do século 2 da era comum – deixou a seguinte mensagem aos seus filhos, com instruções que, à primeira vista, pareceram bastante estranhas:

“A lamparina (ner) deve ser mantida acesa;
a mesa (shulchan) deve ser mantida posta; 
e a cama (mitá) deve permanecer arrumada como sempre esteve.”

Estranha talvez para nós, mas seus filhos compreenderam a sutil e profunda mensagem do seu finado pai, que dizia o seguinte:

“Minha dedicação ao estudo da Torá deve ser continuada por vocês, tendo como símbolo a lamparina (ner) que me permitia estudar pela noite à dentro. A mesa (shulchan) na qual sempre recebi os famintos e aflitos,
praticando beneficência, deve permanecer posta, para que essa prática continue sendo parte essencial da vida vocês. A cama (mitá) à qual me retirava tarde da noite, a fim de renovar minhas forças para me dedicar ao serviço Divino, fará vocês terem presente, a todo momento, a minha forma de louvar o Eterno, para também ser praticada por vocês.”

Assim, os filhos do Rabi Iehudá – o “Rabi” par excellence – compreenderam que, na realidade, seu pai os conclamava a se dedicarem aos mesmos três pilares sobre os quais o mundo se mantém – a Torá, o serviço Divino e a beneficência – conforme o ensinamento do justo Rabi Shimon.

Curiosamente, as letras iniciais em hebraico de mesa (shulchan), cama (mitá) e lamparina (ner) – shin, mem e nun – formam a palavra shémen, que em hebraico quer dizer “óleo”, um elemento natural que está diretamente associado à determinação do povo judeu de manter como fundamento angular de sua conduta a dedicação ao estudo e cumprimento da Torá, ao serviço Divino e à beneficência.

E não por acaso ele foi comparado ao óleo, uma substância que, mesmo misturada a outros líquidos, deles se separa e a todos se sobrepõe. Envolto pela Torá e envolvido na prática da assistência social, o povo judeu jamais se diluirá nem dissolverá entre os demais povos, permanecendo sempre nos caminhos que lhe foram determinados pelo Eterno.

Os milagres de Chanucá reafirmam que é indestrutível o povo que pauta por esses parâmetros o seu comportamento.

Na época dos Macabeus, no século 2 antes da era comum, pela primeira vez na história um povo lutou heroicamente – não por conquistas ou glórias, mas sim, em defesa dos seus valores espirituais e pelo direito de manter as suas tradições. O Império Sírio-helênico não ameaçava a sobrevivência física dos judeus; sua meta era destruir a sua fé e impedi-los de seguir os ditames de sua religião.

A forma pela qual a vitória de um grupo tão pequeno contra um inimigo tremendamente mais forte foi celebrada deixa indubitavelmente clara a motivação dos Macabeus, que tinham como uma de suas prioridades fundamentais a reinauguração do Templo conspurcado pelas tropas greco-sírias e o renovar do acendimento da Menorá.

Naquele momento de glória após as batalhas, o único vaso de óleo não conspurcado que foi encontrado intacto simbolizou os princípios de vida dos nossos antepassados – a Torá, o serviço Divino e a beneficência.

O milagre de terem encontrado uma porção de óleo suficiente apenas para um dia, mas que milagrosamente durou por oito, simboliza o Eterno amparando o povo de Israel em todos os momentos da história, mesmo naqueles em que toda esperança parece estar perdida.

Plenos de agradecimento a Ele pelos atos milagrosos que realizou na época dos Macabeus, temos também presentes a sucessão de milagres pelos quais o nosso povo atravessou e sobreviveu a 20 séculos de vicissitudes, enfrentando sofrimento, tragédias e desafios sem conta, mas sempre mantendo sua integridade, capacidade criadora, esperança e fé.

Os Macabeus do passado lutaram não somente contra os mercenários gregos, mas também contra os assimilacionistas de plantão – aqueles que consideravam mais fácil e proveitoso se integrar à cultura helênica e renegar suas raízes e sua identidade judaica.

Hoje também se desenrola uma luta contra a alienação, o desinteresse e o desconhecimento dos nossos valores religiosos, éticos, históricos e culturais. Por isso, é preciso cada vez mais que nos esforcemos para mostrar aos nossos jovens o caminho da autorrealização dentro dos valores peculiares do nosso povo, conscientizando-os para as responsabilidades de judeus post-Holocausto e contemporâneos ao advento do Estado de Israel.

Sim, Matatias ergueu a bandeira da luta pela liberdade de espírito, mas ela só pôde permanecer erguida e conduzida à vitória porque seus filhos Judá, Jonatan e Simão deram continuidade e consistência a essa luta.

É preciso que, onde quer que existam judeus, as novas gerações possam experimentar plenamente a satisfação de viver novamente pelos princípios de “Torá, serviço Divino e beneficência”. Cabe a cada um de nós a responsabilidade de ser um exemplo vivo dessa forma de comportamento.

Que seja nosso compromisso manter as luzes de Chanucá como símbolo imperecível da nossa decisão de sermos plenamente judeus ante quaisquer circunstâncias, e de afirmarmos que a nossa fé nos dará força e poder para sobrepujarmos os nossos opressores e continuarmos a ser um exemplo inspirador para a construção de um mundo em que haja compreensão entre todos os povos, respeito aos direitos de cada ser humano e que pelo mérito da prática de “Torá, serviço Divino e beneficência” por todos nós, possamos trazer paz – Shalom – a todos os recantos da terra e a toda a humanidade.

Chag Chanuca Sameach!

David Gorodovits e Jairo Fridlin

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