fbpx
Calendário Judaico Pêssach

Significados ocultos dos conceitos de chamêts (levedura) e matsá (pão ázimo)

Os nossos sábios depreenderam das leis de Pêssach muitos conceitos enobrecedores. A seguir, uma pequena seleção desses ensinamentos:

A diferença entre chamêts e matsá é muito pequena; para a feitura de ambos utilizamos farinha, água e forno. O que os torna tão infinitamente diferentes? A diferença está na atitude da pessoa. Basta ela não fazer nada para a massa se tornar chamêts – fermentando, aumentando de volume, mudando de forma e tomando um gosto amargo; todas essas mudanças ocorrem por si só e não requerem esforço por parte da pessoa. Mas para que a massa se transforme numa matsá adequada para o cumprimento de uma mitsvá importante, a pessoa deve agir, trabalhar com afinco e esforçar-se bastante.

*

O chamêts e os agentes que causam a fermentação simbolizam o orgulho e a arrogância; portanto, mesmo a partícula mais diminuta é proibida em Pêssach. Essas qualidades – em qualquer grau que se apresentem na alma da pessoa – são prejudiciais ao seu caráter.

*

Para fazer com que a massa da matsá se torne chamêts basta o acréscimo de um pequeno decurso de tempo – uma fração de um momento sem que a pessoa faça algo. Os termos matsá e chamêts aludem a isso. Matsá contém as letras mem, tsadic e he. Se adicionarmos um pequeno risco à letra , ela se transforma na letra chet, formando então a palavra chamêts. Isso nos mostra a profundidade e grandiosidade da lashón hacódesh (língua sagrada). As palavras e letras hebraicas não são meras combinações circunstanciais; elas resultam da sabedoria do Criador. Até os formatos das próprias letras e a ordem em que estão dispostas encerram um significado muito profundo. Podemos chegar a compreender alguns deles, mas para entendê-los a todos devemos esperar pelo dia em que “a terra estará repleta do conhecimento do Eterno” (Isaías 11:9).

*

O chamêts simboliza a inclinação para o mal; assim, a busca do chamêts e a sua eliminação representam a luta do homem pelo domínio dessa inclinação. O chamêts é mais saboroso do que a matsá, tem aparência mais agradável e é mais volumoso. O mesmo se dá com relação à inclinação para o mal: ela atrai a pessoa aos prazeres mundanos, torna-os mais atraentes aos seus olhos e faz com que pareçam muito maiores do que realmente são. Esse é o chamêts que o homem deve eliminar por completo.

A mitsvá de eliminar o chamêts tornou-se o escudo que protegeu os israelitas do castigo que pairava sobre eles quando do Êxodo do Egito. Os pecados dos irrefreáveis egípcios se originaram principalmente do orgulho que tinham de sua riqueza e poder. Esses eram os deuses que eles veneravam – a riqueza e o poder físico, simbolizados pelo carneiro. O Egito, enorme monstro marinho que jazia no meio do Nilo e alardeava: “O rio é meu e eu o fiz” (Ezequiel 29:3), era uma nação de déspotas e tiranos. Todas as outras nações estavam subordinadas a ela. Mesmo entre os próprios egípcios, os mais fortes eram donos e senhores dos mais fracos; os primogênitos gozavam de vantagens especiais e eram preferidos. Até os servos mais ordinários que trabalhavam nos moinhos menosprezavam quem tivesse colocação mais baixa. As classes subjugadas e escravizadas da sociedade egípcia não buscavam liberdade – elas buscavam apenas alguém abaixo delas para se verem como chefes. Todo o Egito estava infestado de orgulho e arrogância. Quando o Faraó disse (Êxodo 5:2): “Quem é o Eterno para que eu escute Sua voz?”, ele apenas expressou os sentimentos de toda a sua nação – tanto das pessoas livres quanto dos escravizados.

Baixe gratuitamente!

O Egito preferia se ver destruído e ter a sua terra dizimada pelas pragas que se sucederam do que consentir em libertar os seus escravos e admitir que o seu domínio sobre eles era ilusório. Como poderia alguém que proclamava: “O rio é meu e eu o fiz,” admitir a existência de um poder maior? Só quando Deus passou sobre a terra do Egito, transformando-a na mais baixa de todas as nações – para que “o Egito saiba que Eu sou o Eterno” (Êxodo 7:5) –, só então os cidadãos dessa outrora grande nação exclamaram: “Deus é justo e não há ninguém além Dele”.

As pragas atingiram cada casa e lugar onde houvesse algum vestígio de arrogância. Como não havia família sem um primogênito, a morte se fez presente em todos os lares, quando a última e mais terrível das pragas, a “morte dos primogênitos”, se abateu sobre eles. Naquele momento, os vestígios do orgulho, da vaidade e da arrogância desapareceram do mundo, pois a glória da majestade de Deus estava para se revelar, e só a Sua onipotência passaria a reinar sobre tudo o que Ele tinha criado.

Naquela hora, os primogênitos israelitas também se viram em perigo diante da justiça Divina, pois talvez eles também tivessem sido influenciados e infectados pela impureza que prevalecia no Egito, assim como os demais escravos. Talvez também houvesse entre eles quem tivesse proclamado com arrogância: “Eu sou maior do que você”, uma declaração que o tornasse culpado perante a ira Divina que tinha se desencadeado para aniquilar os primogênitos e os arrogantes, a fim de restaurar a majestade ao Rei da glória.

“E o Eterno falou a Moisés e a Aarão na terra do Egito… falai a toda a congregação de Israel, dizendo… que cada homem tome para si um cordeiro para cada família, um cordeiro para cada casa… e toda a assembleia da congregação de Israel o abaterá… e tomarão do sangue e porão sobre os dois umbrais… e nessa noite comerão a carne assada no fogo [à maneira dos escravos], com matsót (pães ázimos) [à maneira daqueles cujo período de subjugação foi prolongado] e com marór (ervas amargas) [à maneira daqueles que são vítimas de sofrimento]” (Êxodo 12:1-8).

Por que isso lhes foi ordenado? Para que eles pudessem afirmar, apesar de ainda morarem em meio à impureza do Egito, que tinham se purificado de toda essa profanação. O carneiro, deus falso que representava tudo o que havia de degradante no Egito, jazia abatido diante deles, o seu sangue pingando nos umbrais de suas casas. O chamêts, a arrogância exagerada de uma nação de déspotas, tinha sido eliminado. Todos os alimentos dessa noite apontavam para uma única ideia. O cordeiro, símbolo de idolatria, a matsá preparada às pressas e as ervas amargas comidas com humildade, serviam para demonstrar que eles não mais faziam parte da sociedade egípcia. O versículo diz: “Não sacrifiques o sangue de Meu sacrifício tendo chamêts” (ibid. 23:18), pois chamêts e Pêssach são conceitos diametralmente opostos. Agora eles eram homens livres; eles não eram mais servos do Faraó, e sim servos do Rei do universo.

“E passarei pela terra do Egito nessa noite, e abaterei todo primogênito na terra do Egito… e o sangue será para vós por sinal, sobre as casas… e saltarei sobre vós, e não haverá em vós a praga do destruidor, quando Eu atacar a terra do Egito” (ibid. 12:12-13).

A eliminação do chamêts, assim como o abate do sacrifício pascal e a aplicação do seu sangue nos umbrais, protegeram os israelitas do severo castigo que se abateu sobre os egípcios. A cada geração, nós colhemos o benefício desses atos, pois através deles oferecemos testemunho de que só há um Deus, que toda a grandeza Lhe pertence, que tudo provém Dele e que todo o nosso sustento é concedido por Ele como recompensa pelos nossos esforços em cumprir as mitsvót que Ele nos ordenou.

*

O Rav Chaim Vital, no seu Sefer Hacavanót, compara os primeiros 13 dias de Nissán aos primeros 13 anos de vida do homem – cada dia representando um ano. “Na véspera do dia 14” – quando recai sobre um jovem a obrigação de cumprir as mitsvót – ele é ordenado a buscar o chamêts. Quando o 14º ano da vida do homem começa, a inclinação para o bem ingressa nele e ele assume a obrigação de cumprir as mitsvót, pois passa a ter a capacidade de lutar contra a sua inclinação para o mal, de procurá-la e destruí-la, onde quer que ela se encontre.

*

A busca do chamêts serve para alertar o homem quanto à sua inclinação para o mal. Ele é ordenado a procurar o chamêts em locais difíceis e escondidos e a eliminá-lo, em seguida, para poder desfrutar da libertação do domínio de sua inclinação. O homem deve sentir essa liberdade como se ele próprio tivesse sido libertado do Egito.

Costuma-se, portanto, espalhar pela casa pedaços de pão na hora da busca, como sinal de que, mesmo quando a pessoa dá o máximo de si para se purificar do pecado e da iniquidade, ela não deve sentir-se orgulhosa da conquista, dizendo: “Não possuo mais nenhum vestígio de impureza de pecados.” Pelo contrário, ela deve continuar a busca, pois acabará sem dúvida encontrando mais chamêts, que simboliza o orgulho – “pois não há sobre a terra alguém tão correto que só faça o bem e não peque jamais” (Eclesiastes 7:20). Quem se envaidece achando ter corrigido todos os seus defeitos pode estar certo de que ainda nem começou a servir Deus da forma adequada.


O Livro do Conhecimento Judaico

Trecho extraído do livro:

LIVRO DO CONHECIMENTO JUDAICO [SÊFER HATODAÁ]
O Ano Hebreu e Seus Dias Significativos
de Eliahu Kitov
Páginas: 659
Editora Sêfer

CONHEÇA A OBRA!

Comentário