O Tratado de Avót faz parte das Mishnaiót da ordem de Nezikín (Danos), e está situado entre os Tratados de Avodá Zará e de Horaiót.
Por que ele foi fixado nessa ordem, que trata de temas relacionados a legislação e justiça? O Rambam (Maimônides), na sua introdução ao Tratado Zeraím (Sementes), escreve: “Quem mais precisa desses conceitos [os ensinamentos éticos de Avót] são os juízes. Um ignorante que se comporta de maneira imoral, não prejudica a ninguém além de si mesmo; mas um juiz imoral e corrupto prejudica tanto a si mesmo quanto a toda a sociedade.”
O tratado é chamado de Avót – literalmente: “Os Pais” – por ser uma coletânea de conceitos éticos e morais ensinados pelos nossos antepassados, os sábios de Israel. Esses ensinamentos, assim como toda a Torá, foram transmitidos de geração em geração, numa cadeia ininterrupta desde Moisés. As lições de ética do Pirkê Avót podem ser consideradas como “os pais” – os protótipos – de toda a ética e moralidade que os nossos sábios ensinaram.
Ao estudar o Pirkê Avót, a pessoa poderá sentir, por um lado, que jamais conseguirá alcançar padrões de comportamento ético tão elevados. Por outro lado, ela poderá achar que alguns dos ensinamentos são tão óbvios e básicos que quem não os cumpre é verdadeiramente malvado. Sendo assim, cabe questionar: que sentido tem então o estudo desse tratado?
Para solucionar essa dúvida, os sábios estabeleceram que antes de começar a leitura de Pirkê Avót deve-se ler primeiro a Mishná introdutória do último capítulo do Tratado de San’hedrín (90a), que declara: “Todo Israel tem um quinhão no Mundo Vindouro.” E ao concluir a leitura, deve-se ler uma Mishná do Tratado de Macót (23b), que declara: “o Santíssimo quis recompensar Israel; por isso, outorgou-lhe em abundância a Torá e as mitsvót.”
Nenhum judeu deve pensar que o comportamento exigido dele pela Torá está além da sua capacidade e destina-se apenas aos justos e piedosos – aos que vivem no “Mundo Vindouro” aqui mesmo neste mundo físico. Pelo contrário: todo judeu tem uma porção no Mundo Vindouro – uma parte de seu interior, que o mantém conectado continuamente ao mundo espiritual.
Da mesma forma, nenhum judeu deve considerar desnecessários os conselhos e ensinamentos dos sábios. Embora um indivíduo possa ser capaz de cumprir naturalmente muitas partes da Torá, mesmo sem ter sido ordenado a fazê-lo, é preciso ter em mente que Deus determinou os Seus mandamentos graças à Sua infinita bondade; ao outorgar-nos essas leis e padrões de comportamento como mitsvót, cumprimos a Sua vontade como se fosse a nossa, e somos recompensados por fazê-lo. Assim, mesmo se aos nossos olhos alguns dos ensinamentos do Pirkê Avót aparentam ser óbvios, a pessoa ao estudá-los está estudando a Torá que foi outorgada no Sinai, e será recompensada por isso.
Vale notar que a Mishná do Tratado de San’hedrín, se traduzida literalmente, declara: “Todo Israel tem um quinhão para o Mundo Vindouro” e não “no Mundo Vindouro.” O Rabino Chayim Volozhin explica que se os nossos sábios tivessem optado por essa última frase, as pessoas poderiam assumir erroneamente que o Mundo Vindouro viesse a ser um lugar já pronto, e que bastaria comportar-se meritoriamente para garantir uma porção nele. Os sábios, portanto, utilizaram a primeira frase para indicar que o Mundo Vindouro é um lugar que se expande de acordo com as boas ações do homem. Cada filho de Israel tem um quinhão – um elemento de santidade e pureza – que pode expandir a sua porção do Mundo Vindouro.
A Editora Sêfer publicou esse tratado com amplos comentários e análises sob o nome de A ÉTICA DO SINAI, e ele é um dos seus livros mais vendidos e elogiados.
Trecho extraído da obra Livro do Conhecimento Judaico [Sêfer Hatodaá], O Ano Hebreu e Seus Dias Significativos
Autor: Eliahu Kitov
Editora Sêfer
Páginas: 656
Verdadeira enciclopédia de conhecimento judaico, descreve e comenta profundamente o calendário judaico – seus dias de festa e de jejum, de alegria e de tristeza -, bem como o significado de suas leis e costumes, acompanhado de rico manancial de comentários do Midrash e de ideias inspiradoras de sábios antigos e contemporâneos. É livro obrigatório em cada lar judaico e biblioteca. Quer conhecer antes de comprar? Baixe aqui um trecho desta obra gratuitamente!