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Contos e parábolas

Os três prisioneiros

por David Gorodovits

 

Conta-se que, certa vez, três homens, presos injustamente, foram postos na mesma cela de uma prisão. Inconformados por terem sido condenados sem que tivessem culpa por qualquer delito, uniram-se para, juntos, buscar meios de escapar dali.

Resolveram escavar um túnel que lhes permitisse sair além dos muros da prisão, no meio da floresta que a circundava.

Trabalharam arduamente, disfarçando dos guardas o que estavam a fazer.

No caminho que escavavam, depararam-se com um cofre ricamente decorado e resolveram levá-lo quando chegasse a ocasião de escapar.

Após dias e noites de trabalho calcularam que já estavam num ponto que lhes permitisse emergir bem dentro da floresta e, escavando em direção a superfície, verificaram que estavam certos.

Puseram-se em fuga, carregando o cofre, embora fosse muito pesado, pois esperavam encontrar nele recursos que lhes permitisse reconstruir suas vidas em outros países.

Quase não descansavam, procurando pôr o máximo de distância entre eles e seus eventuais perseguidores, até que, ao já se considerarem em segurança, pararam para planejar seus próximos passos.

Conseguiram abrir o cofre, cujo conteúdo não frustrou suas esperanças, pois estava repleto de moedas de ouro.

O primeiro dos fugitivos declarou:

– Com minha parte desta fortuna hei de construir um castelo, cercado de fossos repletos de crocodilos. Terei os armamentos mais modernos que conseguir, manejados por guerreiros inteiramente fiéis a mim. Se alguém que eu não tenha convidado chegar muito perto do castelo, será avisado de que deve se afastar, sob pena de ser destruído por meus soldados. Só assim terei certeza de que não serei novamente preso injustamente.

O segundo declarou:

– Quanto a mim farei construir um navio de guerra, com o melhor armamento que existir, e uma tripulação aguerrida, que obedeça somente a meu comando. Qualquer barco trazendo pessoas desconhecidas por mim que quiser se aproximar, será avisado de que não deve fazê-lo, sob pena de ser posto a pique. Assim terei certeza que não voltarei a passar por uma situação tão desagradável como aquela da qual escapamos.

O terceiro declarou:

– Usando o que me couber desta fortuna procurarei um recanto bem pacífico, onde farei construir uma casa cercada de jardins. Suas portas e janelas ficarão sempre abertas e, mesmo de longe, poderá se avistar um grande painel onde estará escrito: “Seja Bem-vindo!” Só assim me sentirei verdadeiramente seguro, confiando minha proteção somente no Eterno.

Uma cabana, sem portas, de janelas abertas, com um teto formado por folhas de palmeira, que permitam enxergar o céu através delas – assim é a morada na qual os judeus fazem as refeições e onde procuram passar o maior tempo possível durante a festividade de Sucót.

Lembram a travessia do deserto, quando saíram da escravidão do Egito, a caminho da Terra Prometida, quando o sentimento de viver em segurança não era proporcionado por estruturas fortificadas e regimentos armados, mas pela confiança na proteção do Eterno.

Em cabanas abrigaram-se durante 40 anos e chegaram à terra de seu destino, forjados para vencer as dificuldades da conquista e o estabelecimento de uma nação baseada nos mandamentos da Torá.

Através da história atravessaram tempos tempestuosos, em que inimigos poderosos tentaram destruí-los, mas a salvação do Eterno frustrou seus intentos.

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Que saibamos, todos nós, viver em moradas cuja estrutura seja a integridade, cuja cobertura seja a fé, e nas quais o comportamento ético e de elevada moral seja a decorrência dos ensinamentos da Torá.

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