O judaÃsmo se preocupa com todos os assuntos da existência humana e com o ambiente fÃsico e moral do mundo em que vivemos. Como já escrevi anteriormente várias vezes, o judaÃsmo abomina extremismos. Procura um estilo de vida equilibrado, alinhado com os mandamentos e o sistema de valores da Torá.
Como exemplo podemos citar o caso do nazir (nazireu), que se abstém de vinho e outros prazeres humanos durante o perÃodo de sua nezirut, e por isso a Torá determina que ele traga uma oferenda por pecado no fim desse perÃodo por ter voluntariamente renunciado ao vinho e a outros prazeres da sociedade humana.
O Talmud ensina que o grande cohen gadol de Israel, Shimon Hatsadic, durante seu longo sacerdócio, deparou-se somente com um caso de nezirut verdadeiramente justificado e puramente motivado pelo desejo de alcançar maior santidade. A Torá não prega o ascetismo como norma de vida. Procura o equilÃbrio certo entre o hedonismo injustificado, por um lado, e o comportamento do ermitão, por outro.
Muitas vezes é difÃcil encontrar um equilÃbrio perfeito o tempo todo, e por isto precisam ser feitos ajustes de acordo com as circunstâncias e natureza da sociedade. Numa geração com tendência à imoralidade, a busca do ascetismo pode ser justificada. Mas a Torá deixa claro que essa não é a norma ideal da sociedade judaica.
Na alta Idade Média, o ascetismo tornou-se um meio de vida entre os clérigos cristãos e, até certo ponto, mesmo entre suas massas. Autoflagelação e outros meios de provocar dor e privação tornaram-se normas religiosas. Embora o Talmud legitime dias de jejum privado, não há referência a qualquer forma de automortificação.
O corpo de cada um deve ser tratado com respeito e gentileza, e não deve ser abusado. Entretanto, talvez devido à influência dos tempos também sobre os judeus, verificamos que, na Idade Média, os piedosos judeus prescreviam formas de comportamento ascético como instrumentos para a obtenção de perdão por pecados cometidos.
O pensamento cabalÃstico reforçou muitas vezes esse padrão de comportamento, embora ele nunca tenha sido aceito por um número significativo de judeus. Os numerosos falsos messias que surgiram no mundo judaico sempre tenderam para comportamentos ascéticos, à s vezes inexplicavelmente mesclados com hedonismo selvagem e atos de deboche. Mais tarde, os seguidores do Movimento de Mussar também se engajaram num tipo de ascetismo em suas vidas pessoais, embora isto nunca tenha se tornado uma norma no movimento e menos ainda na sociedade judaica em geral.
A linha que separa o comportamento restrito e o ascetismo era muitas vezes difÃcil de definir, mas esteve sempre presente na sociedade judaica. Em resumo, a busca do puro ascetismo nunca esteve de acordo com os valores judaicos e o modo de vida dos que seguem a Torá. Entretanto, numa geração de irrestrito hedonismo como a nossa, uma pequena dose de ascetismo seria apropriada para uma vida equilibrada e apropriada, segundo os padrões da Torá.
A Torá encoraja a estética. Beleza, harmonia e pureza fazem parte do modo de vida segundo a Torá. A apreciação do mundo que existe em nossa volta somente reforça nossa crença e gratidão para com o Criador do Universo. Belas construções sempre foram parte da tradição judaica desde os tempos dos templos sagrados até as edificações de grandes sinagogas do mundo judaico de hoje. A arte é muito apreciada na sociedade judaica e temas ambientais fazem parte do horizonte judaico.
A apreciação das qualidades estéticas da vida sempre contribuiu para aprofundar a fé – a base da vida judaica. Durante o longo exÃlio do povo judeu, houve épocas em que a estética foi negligenciada simplesmente em razão da pobreza e intolerância dos paÃses hospedeiros. O mundo não judaico se ressentia diante de qualquer forma de beleza especial na sociedade judaica. As roupas judaicas tinham de ser simples, as sinagogas deviam ser obscuras e a pobreza dos judeus corroÃa qualquer tipo de apreciação das normas estéticas da criação artÃstica.
Atualmente, essa situação mudou e há um renovado interesse e busca por valores estéticos no mundo judaico. As paredes de muitas casas judaicas são decoradas com arte, e a infraestrutura do Estado de Israel, de um modo geral, exibe projetos esteticamente agradáveis (o que dizer sobre a nova ponte estaiada construÃda na entrada de Jerusalém?) e há uma apreciação crescente da beleza simples da nossa terra.
A busca de um ambiente agradável deve, em definitivo, ser parte da nossa forma de vida – aqui em Israel e onde quer que os judeus vivam.
Trecho extraÃdo do livro ECOS DO SINAI- Uma viagem pelo calendário judaico
Autor: Berel Wein
Editora Sêfer
Páginas: 261
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