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Contos e parábolas

O Ministro e a Flauta

por David Gorodovits

 

Houve certa vez um rei cuja paixões eram a caça e a música.

Um grande séquito acompanhava-o sempre em suas caçadas, porque não só tratava de sua segurança, como também o distraía com suas músicas preferidas, quando parava para descansar.

Certa vez, o rei se separou de seus acompanhantes e acabou se perdendo no coração da floresta. Tentou encontrar uma trilha que o levasse ao caminho de volta ao palácio mas, após algum tempo, percebeu que estava completamente perdido.

A noite se aproximava e o uivo de lobos o deixava preocupado.

De repente, ele escutou o som de uma flauta de pastor entoando músicas que, embora simples, o comoveram por sua beleza.

Seguindo na direção do som, acabou por encontrar, numa clareira, o pastor que tocara seu coração com aquela melodia. O pastor reconheceu o rei e prostrou-se respeitosamente, sentindo-se, ao mesmo tempo, honrado e intimidado por tão nobre presença.

O rei o cumprimentou pela beleza de sua música e contou como se perdera na floresta, incapaz de encontrar seus acompanhantes ou um caminho pelo qual pudesse retornar ao palácio. O pastor imediatamente se propôs a conduzir o rei, pois conhecia todos os recantos da floresta, e assim o fez, chegando com rapidez a um caminho, a partir do qual o rei poderia seguir sozinho.

O rei, entretanto, grato pelo serviço que lhe prestara o pastor e enlevado ainda pela música simples que ouvira, pediu-lhe que viesse com ele ao palácio, onde ele seria educado e treinado para permanecer como servidor do rei. O pastor acedeu à solicitação do rei e, em poucos anos, estudando com afinco e dedicando-se totalmente a seu soberano, foi nomeado primeiro-ministro.

Todos na corte tinham inveja e desprezo por aquela pessoa tão humilde que surgira, de repente, em seu meio e que galgara tão alta posição. Não perdiam ocasião de falar ao rei, prevenindo-o contra o pastor e assegurando que ele estava a enriquecer com o que roubava do tesouro real.

Através de um empregado do primeiro-ministro, souberam que em sua casa havia um quarto que permanecia sempre trancado e ao qual somente ele tinha acesso. Apressaram-se a relatar o fato ao rei, dizendo que, certamente, naquele cômodo ele armazenava tudo que conseguia roubar. Tanto insistiram que o soberano acabou por concordar em visitar, de surpresa, seu ministro e verificar pessoalmente o que havia naquele misterioso quarto.

Acompanhado por vasta comitiva, bateu à porta do ministro, que ficou encantado com a visita. Mas, sem mais delongas, o rei lhe disse: “Quero que seja aberto o recinto de sua casa onde a ninguém é permitido entrar, pois quero verificar o que é guardado lá”.

O ministro insistiu muito com o rei para que não lhe desse tal ordem, mas o rei foi inflexível, considerando que a recusa do ministro demonstrava sua culpa.

Não tendo alternativa, o ex pastor abriu o quarto e todos se precipitaram para descobrir seu segredo. Admirados, verificaram que ali havia somente as vestes de um pastor, seu cajado e sua flauta.

Intrigado, o rei perguntou: “O que significa isto? Por que este mistério?”

“Majestade”, explicou o pastor, “desde que cheguei ao palácio vi-me cercado de intrigas. Para não me deixar contaminar por elas e vir a agir falsamente, como muitos daqueles com quem passei a conviver, isolei este recinto, onde uma vez por dia eu me tranco. Visto minha roupa de pastor e entoo em minha flauta as melodias simples que caracterizam a vida de um pastor, cercado apenas pela Criação do Eterno, pela natureza e por seu rebanho. Desta forma, consigo renovar minhas energias para me manter íntegro e servir ao rei com toda lealdade e dedicação que quero sempre manter”.

O rei, comovido, abraçou o ministro e compreendeu que era nele que podia verdadeiramente confiar.

*

Nos dias de hoje, quando nos parece estarmos vivendo numa época em que poucos reverenciam ao Eterno e sabem respeitar e honrar a cada uma de suas criaturas, vivendo em conformidade com Seus mandamentos, podemos, e devemos, restaurar nossa fé e nossa integridade, a cada dia, ouvindo a melodia de nossas orações, a poesia de nossos salmos e a verdade eterna da Torá.

Desta forma, certamente, estaremos contribuindo para tornar o mundo um pouco melhor.

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