O imperador romano aprovou uma lei proibindo todos os judeus da Terra de Israel de circuncidar seus filhos. Foi nesse período que rabi Iehudá Hanassi nasceu. Ele tornou-se tão amado que todos o chamariam simplesmente de ‘Rabi’ – nosso mestre.
Seu pai, raban Shimon ben Gamliel, disse: “Deus ordenou que circuncidemos nossos filhos no oitavo dia. Os perversos romanos decretaram que não devemos circuncidá-los. A quem devemos obedecer? A Deus ou ao imperador romano? É claro que a Deus!!!”
Ele logo realizou o berit.
Os romanos descobriram o fato e correram para informar o governador romano, que convocou raban Shimon ben Gamliel. “Por que você desobedeceu a lei do imperador e circuncidou seu filho?” – ele perguntou.
“Nosso Deus nos ordenou circuncidar nossos filhos” – raban Shimon respondeu diretamente. “Devemos obedecer primeiramente às Suas ordens!”
“Você é uma pessoa proeminente e respeitada, o nassi da comunidade judaica. Contudo, não posso negligenciar isso. Você desafiou abertamente a lei!”
“O que você fará em relação a isso?”
“Terei de enviar a criança circuncidada ao imperador. Deixemos que ele decida o que fazer com você!” – disse o governador. Ele estava certo de que o imperador puniria severamente o judeu rebelde.
Raban Gamliel estava confiante de ter feito a coisa certa aos olhos de Deus e retrucou com segurança: “Faça como achar certo.”
Mãe e filho foram enviados ao imperador. A viagem era longa. Eles não alcançaram o destino ao anoitecer, e a mulher decidiu parar à noite e prosseguir ao amanhecer.
A esposa de Raban Shimon mantinha laços de amizade com uma família romana local. Ela bateu em sua porta, com o bebê no colo, e foi recebida com prazer.
Por coincidência, a mulher da casa também havia dado à luz um menino exatamente uma semana antes! Ela chamou-o de Antoninus.
A mulher romana perguntou: “Por que você enfrentou este longo caminho com uma criança tão nova? Não poderia ter adiado a viagem até que você e a criança estivessem mais fortes?”
A esposa de Raban Shimon soltou um longo suspiro. “Você acha que viajei a lazer com meu recém-nascido? Claro que não! Estou obedecendo a uma ordem. Nosso governador me forçou a ir a Roma e apresentar minha criança perante o imperador, pois eu a circuncidei, violando a lei, e agora o imperador decidirá meu castigo. Quem sabe o que acontecerá?”
O coração da mulher romana se contraiu ao ouvir essas palavras. Ela estava bem familiarizada com a natureza cruel do imperador. Não tinha dúvidas de que ele decretaria a morte da amiga e de seu bebê sem nenhuma piedade! De repente, uma idéia surgiu em seu coração.
“Eu sei! Encontrei a solução!” – exclamou ela. “Amanhã, quando você prosseguir em seu caminho, deve levar meu Antoninus e deixar seu filho comigo. Quando o imperador vir meu filho não-circundado em seus braços, concluirá que alguém a acusou falsamente. Esta é a única maneira de salvar a sua vida e a de seu bebê!”
A esposa de Raban Shimon aceitou o plano. Na manhã seguinte, pegou o pequeno bebê em seus braços, deixando o seu Iehuda com a amiga.
Após uma longa e árdua jornada, ela finalmente chegou ao palácio, na mesma hora em que o governador da cidade também chegava. Ele entrou primeiro na sala do imperador para explicar o caso.
“Vossa Majestade!” – começou ele. – “A mulher que acaba de chegar violou vossa lei. Ela e seu marido o desafiaram ao circuncidar seu filho. Eu ordenei que ela viesse com a criança para que você possa lidar pessoalmente com sua traição.”
A esposa de raban Shimon e seu filho foram levados à sala. Ele imediatamente ordenou que o bebê fosse examinado para verificar se era verdade. Os criados pegaram a criança e logo informaram: “Vossa Majestade, o governador está mentindo! A criança não está circuncidada!”
“Mas tenho absoluta certeza de que raban Shimon ben Gamliel circuncidou seu filho!” – gritou o governador, totalmente desnorteado. “Certamente o Deus dos judeus realizou algum milagre aqui!”
O imperador recusou-se a aceitar tal desculpa. Ele dirigiu-se ao governador e disse-lhe seriamente: “Você manchou a reputação desta judia inocente! Você a acusou falsamente! Você deve ser punido! Além do mais, estou revogando a lei contra a circuncisão por meio disso. Deixe que os judeus continuem cumprindo essa lei conforme seu Deus ordenara.”
A esposa de raban Shimon deixou o palácio carregando o pequeno Antoninus em seus braços. Ela retornou feliz à casa da amiga romana onde foi realizada a troca dos bebês. A mãe de Antoninus viu seu filho assim que ele retornou do palácio do rei e então disse à sua amiga: “Já que Deus salvou seu filho por meio do meu filho, que eles sejam amigos para sempre!”
E assim foi. As crianças cresceram: rabi Iehudá foi escolhido como nassi e era reverenciado e amado por sua gente. Antoninus foi escolhido imperador de Roma. Uma forte amizade ligou os dois grandes homens ao longo de suas vidas.
Ao longo do reinado de Antoninus, os romanos nunca estabeleceram decretos pesados sobre os judeus. Eles permaneceram livres para observar a Torá e seus preceitos sem dificuldades.
Alguns até mesmo dizem que, graças ao privilégio de Antoninus por mamar da mãe justa de rabi Iehudá, tornou-se merecedor de estudar a Torá com rabi Iehudá e, eventualmente, ao final da vida, converteu-se ao judaísmo!
(De acordo com o Midrash em Tossafot Avodá Zará 10b; Menorat Hamaor)
Extraído da série CONTOS DE TSADIKIM
Mesmo se você não tem os demais volumes dessa série, que já se esgotaram… vale a pena conhecer estes tomos que ilustram de forma agradável, com histórias e contos relacionados com os principais temas tratados nos textos dos livros do Levítico e do Deuteronômio. Quem sabe lê-los à mesa no jantar e depois abrir um diálogo com seus filhos a respeito das ideias e dos valores apresentados?

