por David Gorodovits
Certa vez, um menino passeava por uma área da cidade que ainda não conhecia e teve sua atenção despertada por um palácio de belíssima aparência.
Ao aproximar-se, verificou que os muros que contornavam seus jardins eram baixos e, olhando por cima deles, pode divisar um pátio de recreação onde crianças como ele se divertiam nas gangorras, balanços, escorregas e toda sorte de brinquedos.
Desejoso de brincar também, dirigiu-se ao portão do palácio e com muita animação tocou a campainha, certo de que haveriam de deixá-lo entrar.
Foi atendido por um porteiro de vistoso uniforme, que lhe indagou o que desejava.
“Quero entrar para brincar no parque”, disse ele.
“Só pode ser admitido aí quem pratica uma boa ação”, disse-lhe o porteiro.
Isto é algo muito fácil, pensou consigo o menino.
Voltou depressa à sua casa, retirou de seu cofre as moedas que guardava com muito cuidado e, encaminhando-se de volta ao palácio, foi distribuindo-as ao longo do caminho para todos que pediam esmolas.
“Já posso entrar”, disse ao porteiro, quando este veio novamente atendê-lo.
“Isto não é o suficiente”, foi a decepcionante resposta que escutou.
Pensou um pouco e, ao ver um cego tentando atravessar a rua, correu para ajudá-lo, certo de que com este ato conseguiria entrar no parque que tanto desejava, mas… ao se apresentar ao porteiro, recebeu a mesma resposta: “Isto não é o suficiente”.
Praticou diversos atos que considerava ser uma grande caridade, esperando, após cada um deles, ser aceito no palácio, mas só recebia do porteiro a mesma reposta.
Após inúmeras tentativas frustrantes, decidiu desistir de brincar naquele lugar e, com grande tristeza, encaminhou-se de volta à sua casa.
No caminho, ouviu o choro de uma criança pequena e, depois de procurar de onde vinha e qual a sua causa, verificou que um menino de 3 ou 4 anos ficara preso entre os ramos de um espinheiro, onde caíra para recuperar sua bola e onde mais e mais se arranhava à medida que se esforçava para sair.
Não pensou duas vezes. Emaranhou-se entre os espinhos sem se preocupar com os arranhões, libertou o menino e lhe falou com muito carinho: “Não precisa mais chorar. Vou procurar seus pais e levá-lo para casa”.
Neste momento, sentiu uma mão que suavemente se apoiava em suas costas e, ao voltar-se para verificar de quem partia aquele gesto carinhoso, deparou-se com o já conhecido porteiro, que lhe disse: “Venha. Você já pode entrar para o parque”.
Admirado, o menino replicou: “Mas eu não fiz isto para poder entrar!”.
“Exatamente por isto você conquistou este direito”.

