Era difícil acreditar apenas vendo, mas o dono judeu da taverna era um verdadeiro homem sagrado, um fazedor de milagres. Era difícil acreditar que, quando esse homem, vestido tão simplesmente, de forma quase grosseira, abençoava alguém, a bênção quase sempre se realizava! Mas era isso que acontecia, vez após vez.
Todos os aldeões sabiam que isto era verdade e respeitavam profundamente o dono da hospedaria. E logo sua reputação espalhou-se por todo o campo. Quando o rebe de Apta, que vivia então em Mezibuz, escutou sobre esse homem, ficou curioso em conhecê-lo. Se era de fato um homem simples, de onde viria seu poder fantástico? O que poderia ele mesmo, o rebe de Apta, aprender dele?
A única forma de saber era indo até lá.
Quando estava cara a cara com o dono da taverna, o rebe de Apta não se impressionou por sua aparência exterior. Ele observou-o por algum tempo, mas ainda não conseguia enxergar nada de extraordinário no comportamento do homem. Finalmente, ele implorou: “Por favor, diga para mim qual é o segredo de seus maravilhosos poderes? Que característica especial você possui que é tão querida nos Céus para que todas as suas bênçãos sejam realizadas?”
“Minhas forças derivam de minha inabalável fé em Deus” – disse ele simplesmente, modesto.
“Conte-me mais sobre você” – insistiu o rebe.
“Sempre tive fé em Deus. O que quer que acontecesse comigo, sempre acreditei que seria para o bem, pois aquilo vinha de Deus. E, se as coisas iam mal, eu nunca me desesperei, sabendo que com a ajuda de Deus tudo acabaria bem no final. Eu também dava muita tsedacá, especialmente em tempos difíceis. Sempre doei generosamente para aqueles que tinham menos que eu.
Além disso, sempre mantive minha casa aberta aos viajantes. Eu dava boas-vindas às visitas e tratava-as como se fossem hóspedes da realeza. Lembro-me que, certa vez, quando eu entretinha alguns viajantes, ouviu-se uma batida repentina na porta. Era um mensageiro do proprietário das terras, que desejava que eu comparecesse diante dele imediatamente. Ele ameaçou jogar-me na prisão se eu não fosse naquele momento.
Eu não sabia o que fazer, pois ainda precisava alimentar meus visitantes famintos, que vinham de longe. Se eu não lhes servisse algo para comer, iriam para a cama esfomeados e não aguardariam o meu retorno. Naquele momento, tomei uma decisão rápida. Eu faria o que minha consciência me dizia, e deixaria o problema do proprietário para Deus. Depositei minha fé Nele de que tudo ficaria bem.
Cuidei de meus hóspedes, garantindo que comessem e bebessem. Então mostrei a eles seus quartos e, somente depois disso, permiti-me obedecer ao chamado do proprietário, horas após ter sido comunicado.
Eu o encontrei sorrindo. Sem motivo algum, seu humor mudara de repente e ele me recebeu calorosamente. Ele não me jogou na prisão, e tudo acabou acontecendo perfeitamente bem.
Este é apenas um exemplo. Na verdade, tudo acontece perfeitamente, enquanto continuo confiando em Deus. E assim eu não me preocupo mais, não importando quão difíceis as coisas parecem estar.
Há dois anos, perdi minhas posses de um momento para o outro. Nada restou de minha riqueza, nem mesmo um centavo. Mas você pensa que eu fiquei preocupado e ansioso? Nem um pouco. A fé de minha família não é tão forte quanto a minha. Eles me pressionavam para fazer alguma coisa. Insistiram para que eu fosse até a cidade vizinha e encontrasse um negociante disposto a investir seu dinheiro em mim e tornar-se meu sócio, porque viam isso como a única saída prática.
Eu não gostava da idéia, já que preferia permanecer independente. Por que deveria depender de alguém de carne e osso quando durante todo o tempo eu havia confiado em Deus e nunca fora desapontado? Eu discuti, mas era um contra muitos, e afinal concordei e parti para a cidade.
Enquanto viajava na estrada, passando por exuberantes campos verdes, pomares repletos de frutas, vinhedos cheios de uvas atraentes e vacas pastando tranqüilamente no campo, minha fé em Deus ficou mais forte do que nunca. Se Ele era capaz de criar um mundo tão belo e mantê-lo, dia após dia, não poderia sustentar a mim e a minha família? Por que eu deveria começar a confiar nos humanos quando poderia confiar em Deus, Criador de toda a humanidade? Por que não ir diretamente à fonte de toda a vida e todo o sustento? E então uma prece emergiu do fundo do meu coração: “Deus! Você é o Criador do universo, o Mantenedor de todos os seres vivos! Ouça o meu pedido, pois estou com problemas. Perdi meu dinheiro e estou sem nenhum tostão. Minha taverna não pode continuar a funcionar porque não possuo dinheiro para a compra de mercadorias. Minha família insiste que eu arranje um sócio. Mas por que eu deveria confiar em um ser humano que hoje está aqui e amanhã já se foi? Deus, por que Você não pode ser meu sócio? Deixe-me fazer uma oferta para Você. Vamos dividir tudo exatamente em dois. Eu darei metade de tudo o que lucro. Metade para Você, metade para mim. Eu distribuirei a Sua metade entre os pobres e estudantes de Torá e usarei a minha metade para sustentar minha família.”
Assim que pronunciei essas palavras, eu me senti melhor. De repente senti alguma coisa dura no bolso. Enfiei minha mão e encontrei uma moeda. Tinha certeza de que ela não estivera ali antes, pois eu já havia procurado em todos os meus bolsos pela última moeda. Eu a observei. Era de prata maciça! Nunca possuí uma moeda assim. Constatei, então, que essa era a resposta para minha prece. Minha oferta de negócio fora aceita!
Inverti a direção da carroça e voltei para casa. Quando entrei, atirei a moeda brilhante no ar. “Aqui” – eu disse –, “encontrei um parceiro para o negócio. Este é seu primeiro investimento.”
A moeda era suficiente para recomeçar. Comprei um pequeno estoque de licor e o vendi rapidamente, separando imediatamente metade de meu lucro para meu “sócio”. E desde então é isso que faço sempre – separo metade do lucro num cofre especial debaixo do meu balcão. Não permito que ninguém toque no dinheiro, e ninguém sabe quem é o meu sócio. Cuido desse dinheiro como se fosse meu, ou com mais cuidado ainda, pois devo distribuí-lo inteligentemente, para os lugares em que fará mais bem. Essa é minha história.”
O rebe de Apta ouviu atentamente o relato. Quando o dono da taverna terminou, ele levantou-se, agradeceu e partiu.
Quando retornou a seu próprio bêt midrash em Mezibuz, o rebe relatou aos chassidim tudo o que ouvira, acrescentando: “Aquele que entra numa sociedade com Deus e é meticulosamente honesto em seus negócios é abençoado com o poder de realizar milagres!”
Extraído da série CONTOS DE TSADIKIM
Mesmo se você não tem os demais volumes dessa série, que já se esgotaram… vale a pena conhecer estes tomos que ilustram de forma agradável, com histórias e contos relacionados com os principais temas tratados nos textos dos livros do Levítico e do Deuteronômio. Quem sabe lê-los à mesa no jantar e depois abrir um diálogo com seus filhos a respeito das ideias e dos valores apresentados?

