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Contos e parábolas

Pequenos Milagres Judaicos I

por Yitta Halberstam e Judith Leventhal

 

Alô, senhor Klein?
A voz de Goldie Buxbaum, uma dedicada casamenteira, fervia de empolgação.
Já era bastante difícil encontrar almas gêmeas para os jovens da comunidade judaica ortodoxa, mas era
realmente dificílimo encontrar um par para moças que tinham passado dos 30 anos. Por causa delas, mães chorosas
suspiravam, soluçavam e retorciam as mãos em desespero, enquanto as amigas mais bem-sucedidas (e quase avós)
dessas jovens suspiravam de pena e se ofereciam para ligar a um amigo… na Austrália, que talvez… quem sabe…
conhecesse alguém disponível e com menos de setenta anos…
Devido a essa escassez de rapazes disponíveis para mulheres acima dos trinta, Goldie Buxbaum estava radiante
ao ligar para Joseph Klein, um rapaz de 35 anos, maravilhoso, mas ainda solteiro. Ela acabara de conhecer uma
jovem de trinta e um anos que parecia preencher todos os itens da lista de desejos de Joseph, e Goldie tinha certeza
de que essa jovem era a moça certa para ele.
De fato, ela estava tão entusiasmada com a possibilidade que mal esperou a resposta do senhor Klein à sua
saudação e foi logo explicando, apressadamente, o objetivo da ligação.
— Escute – ela praticamente gritava de empolgação –, encontrei sua cara-metade, a sua predestinada! A moça
mais maravilhosa do mundo. E na idade certa para você… Trinta e um!
Quando Goldie parou para recuperar o fôlego, o senhor Klein a interrompeu com um tossido e uma pergunta
direta:
— Trinta e um?! – ele disse confuso. — Você não acha que ela é um pouquinho jovem demais para mim? –
perguntou polidamente.
Pela primeira vez na vida, Goldie estava sem palavras. Ela estava espantada. Qual o problema desse homem?
Que desculpa mais estranha! Talvez ele não estivesse sendo realmente sincero sobre casar-se. Todos os outros
homens com os quais lidara no passado haviam insistido em moças bem mais jovens, e o senhor Klein achava
quatro anos uma diferença grande?
— Você está louco? – gritou Goldie. — Qual o problema com uma diferença de quatro anos?
— Do que você está falando? Quatro anos de diferença? – ele disse surpreso do outro lado da linha. — Eu tenho
sessenta e cinco anos!
— Sessenta e cinco? – falou Goldie, finalmente começando a compreender o que se passava. — Um momento,
quem está falando? Pensei que fosse o senhor Klein.
— Pois não, eu sou o senhor Klein. Posso perguntar quem é você?
— Espere aí – Goldie pensava freneticamente. — O senhor é Joseph Klein?
— Meu sobrenome é Klein, mas meu primeiro nome é Tibor.
Ouve uma pausa e, então, uma exclamação:
— Acho que peguei o número errado!
— Engraçado – riu o estranho do outro lado da linha. — E eu até fiquei esperançoso com relação a um possível
encontro.
Os ouvidos de Goldie se avivaram. Sempre em busca de oportunidades, ela não murmurou uma desculpa
qualquer para desligar em seguida. Em vez disso, direcionou suas antenas como um radar que aponta para seu alvo.
— Você é solteiro? – perguntou.
— Sou viúvo – disse ele – e, na verdade, eu gostaria de me casar novamente. Você é uma casamenteira? Será
que, por acaso, você não teria alguém mais próximo da minha idade?
— Bem, tenho certeza de que consigo arrumar alguém, apesar de não me lembrar de ninguém em particular
neste momento – respondeu Goldie distraidamente. Sua atenção fora desviada pelo bipe constante em sua linha,
indicando que havia outra ligação. Ela odiava a chamada em espera! Havia ignorado os bipes durante toda a
conversa, mas a pessoa do outro lado era insistente e o barulho estava deixando-a louca. Será que aconteceu
alguma coisa com as crianças na escola? Talvez alguma emergência? Era melhor atender a outra ligação.
— Senhor Klein, será que o senhor pode esperar um minuto? Preciso atender outra chamada. Volto em um
segundo.
Espero que a linha não caia, ela pensou com ansiedade, enquanto apertava uma tecla e atendia a outra ligação. É
bom que seja realmente importante.
— Goldie querida, desculpe incomodá-la, mas preciso saber em que dia a sua sogra vai chegar a Nova York na
semana que vem. – Era Sara Rubin, uma antiga amiga da sogra de Goldie, Faige. Sara e Faige se falavam

esporadicamente, mas a última vez que Goldie falara com Sara fora seis meses antes, e ela jamais teria pensado
nela – viúva de temperamento afável – caso sua ligação não viesse em hora tão conveniente.
Lâmpadas se acenderam, alarmes soaram e sinais de neon piscaram freneticamente na fértil mente de Goldie.
— Sara! – disse em um impulso. — Você está saindo com alguém no momento?
— Infelizmente não – disse Sara, melancólica. — Por quê?
— Sara, você pode esperar um minuto? – falou Goldie, sem sequer responder à pergunta. — Tem alguém na
outra linha.
Ela se reconectou ao senhor Klein e anunciou com voz de triunfo:
— Senhor Klein, eu tenho alguém para o senhor!
Hoje, cinco anos depois, Tibor Klein e Sara Rubin estão casados e felizes, e vivem em Borough Park, no
Brooklyn.
— No início, fiquei chateada ao perceber que tinha errado o número – lembra Goldie. — Mas, pensando bem, o
número não estava errado. Foi Deus que me fez ligar para o número certo!

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