por David Gorodovits
Tudo começara como uma diversão – exagerar em cada narrativa o que estava sendo relatado, para torná-la mais interessante. A diversão tornou-se um costume, e agora, naquele país, todos mentiam a tal ponto que não mais se podia estar certo sobre qualquer coisa que fosse afirmada.
E o príncipe herdeiro estava muito triste. Ele, que primava pela afirmação da verdade em qualquer circunstância, chegara à idade de casar e deveria escolher uma noiva, que viria a ser a rainha, quando, no futuro, ele viesse a suceder seu pai no trono.
Precisava encontrar alguém que partilhasse com ele o ideal de banir a mentira de seu reino e torná-lo respeitado em toda parte, por nele serem todos os habitantes plenamente confiáveis.
Após muito pensar sobre a forma para conseguir alcançar tal objetivo, fez anunciar em todas as províncias que, numa festa, para a qual estavam convidadas todas as jovens que pretendiam se candidatar a ser sua esposa, revelaria o critério pelo qual faria sua escolha.
As mais nobres famílias do reino apressaram-se em prover suas filhas com belas roupas e caras jóias, para comparecer à festa.
Um antigo servidor do rei, conhecedor do critério de valores do príncipe, sugeriu à sua filha, criada por ele dentro de padrões semelhantes que, mesmo não tendo roupas deslumbrantes, pois não eram acessíveis a seus parcos recursos, também comparecesse à recepção.
No dia aprazado, durante a cerimônia, o príncipe anunciou que daria um vaso com uma semente para cada candidata. Aquela que, a partir daquela semente, conseguisse desenvolver a mais bela flor dali a seis meses, seria sua eleita.
Assim como cada uma das outras jovens, a filha do servidor envidou todos os esforços para alcançar um bom resultado. Recorreu aos jardineiros do palácio para receber instruções apropriadas, buscou informações na biblioteca real e conversou com os vendedores de flores. Entretanto, todos seus esforços foram vãos, porque absolutamente nada brotou em seu vaso.
Ao fim de seis meses, apesar de seu fracasso, ela resolveu comparecer ao encontro em que o príncipe anunciaria sua decisão. Os vasos das outras candidatas atraíam a atenção de todos, pois era difícil determinar qual era a flor mais bela. Todos os matizes e texturas podiam ser encontrados entre elas. Cada uma parecia mais viçosa, mais atraente.
Um segundo olhar não era dirigido ao único vaso que não ostentava nenhuma flor…
O príncipe percorreu lentamente as fileiras de jovens e finalmente se deteve ante a portadora daquele vaso. Estendeu-lhe a mão e proclamou-a como sua eleita.
Reações agressivas foram ouvidas de todas as outras, manifestando indignação ante tal escolha: “Como um vaso sem flores poderia ser o preferido, diante de espécies tão raros e tão belos?”
Todos cessaram de falar para ouvir o Príncipe, que assim se pronunciou:
“Esta jovem me trouxe a flor mais rara que se poderia encontrar em nosso reino. A flor da verdade, cujo perfume é o único que desejo aspirar por toda a minha vida. As sementes que coloquei em todos os vasos eram estéreis. As flores que me trouxeram traduzem a mentira que tentaram me impingir. Somente esta jovem não mentiu e trouxe o verdadeiro resultado de seus cuidados com a semente. Ela será minha rainha e, juntos, havemos de banir a mentira de nossa terra e torná-la conhecida no mundo inteiro por serem verdadeiros e dignos de confiança todos os seus habitantes”.


Que lindo, amo esta editora! ❤❤❤❤