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Parashá Semanal - Leitura da Torá

O significado da imposição das mãos

vayicrá parasha semanal

Brevíssima coletânea de comentários sobre a PORÇÃO VAYICRÁ extraída da obra TORÁ INTERPRETADA à luz dos comentários do Rabino Samson Raphael Hirsch recém-publicada pela Editora Sêfer

Levítico, Capítulo 1
1 E chamou a Moisés e o Eterno falou lhe da tenda da reunião, dizendo: 2 “Fala aos filhos de Israel e diz lhes: Quando algum homem de vós oferecer sacrifício ao Eterno de animal, do gado e do rebanho fareis vosso sacrifício. 3 Se oferta de elevação [olá] for seu sacrifício do gado, oferecerá um macho perfeito; à entrada da tenda da reunião o oferecerá por sua vontade, diante do Eterno. 4 E imporá sua mão sobre a cabeça da oferta de elevação, e esta será aceita para servir lhe de expiação.

4. E imporá (samách) sua mão sobre. Não se trata de simplesmente encostar a mão no animal. O significado de “imporá” é sustentar e se apoiar em algo. Apenas em poucos casos não é este o significado da palavra. E mesmo nesses casos, sempre se trata de um contato físico forte, seja pela proximidade física, seja pelo tempo do contato. E assim consta na lei: “A imposição sobre o animal da oferta requer força” (TB Chaguigá 16b) e é realizado com as duas mãos (TB Menachót 93a).

Encontramos ainda o conceito de semichá (“impor a mão sobre”) na consagração dos levitas: “E os filhos de Israel imporão suas mãos sobre os levitas” (Números 8:10), e também na ordenação de Josué para liderar o povo: “E imporás tua mão sobre ele” (ibid. 27:18); “E impôs suas mãos sobre ele e ordenou-o” (ibid. 27:23); “E Josué bin Nun estava cheio do espírito de sabedoria, pois Moisés tinha imposto sobre ele as suas mãos” (DT 34:9). Da mesma forma, encontramos este conceito na morte do blasfemador (adiante 24:14): “E todos que o ouviram imporão as suas mãos sobre a cabeça dele.” Trataremos de entender o denominador comum entre esses três casos.

A semelhança entre os dois primeiros casos é clara. Neles, aquele que está impondo as mãos está delegando sua autoridade ou poder para o outro – e este gesto está intrinsecamente relacionado à pessoa daquele que impôs as mãos: o povo impõe as mãos sobre os levitas nomeando-os seus representantes no serviço Divino do Templo, e Moisés nomeia Josué para que lidere o povo em seu lugar. Portanto, nessa “imposição das mãos” estão presentes dois conceitos: outorga e benefício, pois aquele que outorga sua autoridade é beneficiado por constituir para si um representante e permitir a si uma expansão em termos de tempo ou espaço. Assim, o povo de Israel passa a cumprir suas obrigações por meio do serviço dos levitas, de modo que ele fica isento de realizá-lo, e a vida e a obra de Moisés são estendidas por meio de Josué – ou seja, as mãos impostas sobre o outro representa a autoridade e a obrigação transferida para aquele sobre quem ela foi imposta.

No entanto, como podemos relacionar com este conceito o terceiro caso, o das testemunhas e do tribunal que impõem suas mãos sobre o blasfemador? Isso é esclarecido no Torat Cohanim (24:14) da seguinte forma: “Dizem a ele: o teu sangue – ou seja, a tua morte – está sobre tua cabeça – ou seja, é tua culpa –, pois você provocou esta situação” – e assim atribuem a ele a responsabilidade por sua morte. Neste caso, as “mãos” deles que agem contra o blasfemador nada mais são do que as próprias mãos dele sobre si mesmo, pois foram suas ações e ele mesmo que lhe causaram esta pena. Portanto, o sentido aqui é contrário, e a essência da ação de “impor as mãos” é outorgar autoridade ou força àquele que “recebe as mãos sobre si”. Porém, há outorga e benefício. É como se o pecador estivesse recebendo sobre si a ação que ele mesmo praticou pelas mãos dos juízes e das testemunhas, que são livres de qualquer culpa.

Qual o significado de impor as mãos sobre a cabeça do animal que é oferecido como sacrifício? A resposta é simples: a mão da pessoa que oferece o sacrifício foi fraca e cometeu uma transgressão – seja em relação a um mandamento ativo ou proibitivo. Agora, ele “impõe suas mãos” sobre uma decisão do seu coração representada pelo sacrifício. Daqui em diante, sua mão será firme e constante no cumprimento dos mandamentos.

De acordo com esta explicação, a ação de impor as mãos também tem como objetivo transmitir algo que beneficiará aquele que impõe suas mãos, de modo que nessa ação também há o conceito de “outorga”, pois ao impor as mãos sobre o animal, a pessoa estabelece com o animal uma conexão singular com os seus atos. Isto fica evidenciado quando constatamos que esta ação se aplica apenas às ofertas relacionadas com os atos da pessoa – asham, olá, chatat e shelamim. Nas ofertas de bechor (primogênito do animal), maasser (dízimo do gado e do rebanho) e Pêssach (cordeiro pascal) não há “imposição das mãos”, pois essas ofertas têm raiz na relação entre as propriedades de uma pessoa e sua condição na vida – e não com uma transgressão ou ação daquele que está oferecendo o sacrifício (TB Menachót 92b).

Essa ligação entre impor as mãos e o perdão sobre ações passadas pode explicar por que a lei determina que um representante (she-líach) nomeado como procurador de uma pessoa para trazer uma oferta não impõe suas mãos sobre o animal, pois isso se baseia no que determina a Torá: “E imporá sua mão sobre a cabeça da oferta de elevação (Levítico 1:4) – ‘sua mão’, e não a mão do seu representante” (TB Menachót 93b). A mão que solicita o perdão por meio da oferta precisa ser a mesma que se impõe sobre ela. Por isso, essa regra se aplica quando duas ou mais pessoas se associam e dividem uma oferta, trazendo-a juntos: “A expressão ‘seu sacrifício’ (ibid. 1:3) veio incluir todos os donos de um sacrifício, e todos devem impor as mãos nele” (TB Menachót 94a). Todo aquele que deseja aproximar suas ações de Deus por meio de um sacrifício deve impor as mãos sobre ele.

 

Torá Interpretada - Editora Sêfer

 

Brevíssima coletânea de comentários sobre a Porção  Vayicrá extraída da obra Torá Interpretada à luz dos comentários do Rabino Samson Raphael Hirsch, recém-publicada pela Editora Sêfer.

2 Comments

  • Como sempre as mensagens do parashá semanal com um profundo significado proporcionando ensinamentos ricos em instruções apoiadas na torá na interpretação dos grandes rabinos guardiões da fé judaica e seus preceitos..

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