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Parashá Semanal - Leitura da Torá

O simbolismo da movimentação e elevação da oferta de pazes

Brevíssima coletânea de comentários sobre a Porção TETSAVÊ extraída da obra torá interpretada À luz dos comentários do Rabino Samson Raphael Hirsch recém-publicada pela Editora Sêfer

 

Êxodo, Capítulo 29

22 E tomarás do carneiro o sebo, a cauda grossa, o sebo que cobre a entranha, o diafragma com uma pequena parte do fígado, os dois rins, o sebo que está sobre eles e a coxa direita – porque é carneiro de consagração e de pazes –,  23 e um pedaço de pão, um bolo de pão de azeite e uma bolacha da cesta dos pães não fermentados que estará diante do Eterno,  24 e porás tudo sobre as palmas da mão de Aarão e sobre as palmas das mãos de seus filhos, e os movimentarás diante do Eterno. 25 E os tomarás de suas mãos e queimarás no altar sobre a oferta de elevação, para ser aceito com agrado diante do Eterno; esta é uma oferta queimada para o Eterno.

22-25. E tomarás do carneiro (…) e os movimentarás (…) e queimarás no altar. Shelamim (oferta de pazes) vem de shalem (pleno), shalom (paz). Em toda oferta de pazes, que é o sacrifício que expressa a alegria pela satisfação que a pessoa sente por ter sido abençoada por Deus com abundante benevolência, é realizada a movimentação e elevação dos órgãos que simbolizam os impulsos e os objetivos dos sentidos, assim como do peito e da coxa traseira direita.

O peito simboliza pensamentos e aspirações; a coxa refere-se ao poder de sustentação e progresso, que simboliza a força do homem e seus esforços como uma personalidade independente.

“Movimentação” (tenufá) é um movimento horizontal pelo qual a pessoa afasta o objeto de si e o traz a si, para todas as quatro direções (“leva e traz”), e “elevação” é um movimento vertical para cima e para baixo (“eleva e abaixa”). Ambos indicam dádivas – para a humanidade em geral e para Deus –, e portanto esses movimentos são expressões simbólicas do mesmo conceito. A “movimentação”, o movimento horizontal para todos os lados, “direciona” o objeto para o público, e aquele que faz o movimento se compromete, assim, a dedicar o uso do objeto aos objetivos do público. Já a “elevação”, o movimento vertical para cima e para baixo, expressa o compromisso do homem de dedicar o objeto e todos os propósitos terrenos aos céus.

No sacrifício que santifica o prazer da felicidade própria (oferta de pazes), a movimentação e elevação dos órgãos, peito e coxa são realizadas antes da ingestão. Isso simboliza o reconhecimento de que a felicidade deve ser desfrutada apenas se estiver livre de amor egoísta, e somente se estiver reservada a Deus e ao público, aos quais a pessoa dirige seus sentidos, pensamentos, desejos, poderes e aspirações. A pessoa deve se alegrar em sua felicidade, somente se Deus e o público também estiverem felizes com ela.

Embora os dois movimentos – movimentação e elevação – sejam realizados tanto no peito quanto na coxa, a movimentação é mencionada principalmente em relação ao peito, e a elevação, em relação à coxa traseira direita. A Escritura fala frequentemente do “peito da oferta movimentada” e da “coxa erguida”. Parece que o pensamento e o desejo são mais fáceis de dedicar a Deus do que ao público, enquanto o poder físico é naturalmente mais dirigido para propósitos públicos do que para propósitos Divinos. Portanto, a movimentação e a elevação visam acelerar a pessoa na direção oposta – a direção que precisa ser fortalecida.

O peito e a coxa da oferta de pazes são então dados para o sacerdote como representante do Templo da Torá, ao qual são reservados os pensamentos, vontades e poderes independentes da pessoa agraciada.

Aqui, em nosso contexto, o carneiro da consagração simboliza a dedicação de toda a vida do sacerdote a Deus e ao público, e somente por causa dessa dedicação, e em prol dessa dedicação, é conferida ao sacerdote personalidade própria. Portanto, há uma importância especial aqui para a movimentação e para a elevação, mas particularmente para a movimentação. A posição privilegiada que aguardava Aarão e seus filhos, assim como todos os atos de introdução ao sacerdócio que a precederam, já haviam trazido seus pensamentos para mais perto de Deus. Agora, era necessário chamar a atenção deles especialmente para o fato de que o sacerdócio é somente em nome do povo, em prol do povo e por meio do povo, e que o “carneiro” que lidera o público adquire sua posição de prestígio apenas por mérito e em prol do público. Portanto, o texto menciona aqui (versículos 24 e 26) apenas a movimentação, embora também tenha sido feita a elevação, como visto no versículo 27.

E mais: aos órgãos, que simbolizam os esforços e metas materiais, é acrescida aqui a coxa direita (versículo 22), visando essa mesma finalidade – e aqui a Escritura indica, com ênfase especial, “porque é carneiro de consagração”! –, bem como um pão dentre os três tipos de pães (versículo 23), que simbolizam uma maior ou menor quantia de renda que os sacerdotes recebem por meio dos donativos do sacerdócio. Nisto também o sacerdote deve servir de exemplo: todo o poder material e todos os prazeres relacionados ao seu status honroso servirão apenas para o bem público e para o avanço dos objetivos do público.

Acima, no contexto da oferta de elevação, é dito que “ele é uma oferta de elevação ao Eterno, para ser aceito com agrado; é um sacrifício queimado para o Eterno” (versículo 18) – o que significa que o carneiro inteiro é uma expressão da aceitação das palavras de Deus e do compromisso de fazer Sua vontade, e portanto serve como combustível para o fogo de Sua Torá. No entanto, aqui se diz que “esta é uma oferta queimada para o Eterno” – isto é, somente estas partes do carneiro são “oferta queimada para o Eterno”, e o resto deve ser consumido pelos proprietários, Aarão e seus filhos, que agora são santificados para servir como sacerdotes.

Aqui também é dito “para ser aceito com agrado diante do Eterno”, sendo que a linguagem “diante do Eterno”, neste contexto, não é encontrada em nenhum outro lugar da Escritura. Em todos os lugares, é dito “para o Eterno”. Aqui, também, a coxa é queimada no altar, enquanto em geral é apenas “movimentada diante do Eterno”. Isso vem ensinar ao sacerdote que toda a sua vida deve ser “de agrado para o Eterno” – não apenas aquela parte da vida que ele dedica diretamente “para o Eterno”, mas também a parte da vida que está “diante do Eterno”.

 

Torá Interpretada - Editora Sêfer

 

Brevíssima coletânea de comentários sobre a Porção TETSAVÊ extraída da obra Torá Interpretada à luz dos comentários do Rabino Samson Raphael Hirsch, recém-publicada pela Editora Sêfer.

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