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Calendário Judaico

Por que Assará Be-Tevet é observado como um dia de jejum?

Na próxima terça-feira, dia 3 de janeiro, observa-se a data de 10 de Tevêt do calendário hebraico como um dia de jejum e luto pelo início de uma cadeia de calamidades que culminou com a destruição do Primeiro Templo de Jerusalém, construído pelo Rei Salomão.

Preparamos uma coletânea de textos a respeito dessa triste data e algumas das preces recitadas nesse dia. Continue a leitura!

Imagem mostra dois judeus observando escombros do Primeiro Templo Sagrado destruído pelo Rei Nabucodonosor, da Babilônia. Extraída da obra O Templo Sagrado de Jerusalém, da Editora Sêfer.

 

O jejum do dia 10 de Tevêt

Assará Be-Tevet, o décimo dia do mês hebraico de Tevêt (o mês que vem depois de Chanucá), é observado como um dia de jejum menor, para recordar o começo do cerco de Jerusalém em 588 a.e.c.

Depois de quase dois anos de luta, o rei Nabucodonosor, da Babilônia, destruiu o Primeiro Templo (em 586 a.e.c.), que tinha sido construído pelo rei Salomão. Assará Be-Tevêt tornou-se, então, um dia de luto e jejum nacionais. Como ocorre com os outros jejuns menores, este é feito desde o amanhecer até o aparecimento das primeiras estrelas à noite.


Extraído do LIVRO JUDAICO DOS PORQUÊS (volume 1),
de Alfred J. Kolatch
Páginas: 344

Com mais de 3 milhões de exemplares vendidos ao redor do mundo, este best-seller explora cerca de 500 questões básicas sobre o judaísmo, Em uma linguagem simples e direta, o rabino Alfred J. Kolatch explica em que os judeus acreditam, como eles observam as suas festividades, qual o significado dos seus costumes e cerimônias e quais as diferenças entre as correntes religiosas.

Os seis dias de jejum

Durante o ano, há seis datas nas quais jejuar é obrigatório. Uma delas foi ordenada pela Torá – o Iom Kipúr; outras quatro foram estabelecidas pelos últimos profetas (Ageu, Zacarias e Malaquias): o dia 3 de Tishrei (Tsóm Guedaliá), o dia 10 de Tevêt (Assará Betevêt), o dia 17 de Tamuz (Shivá Assár Betamuz) e o dia 9 de Av (Tishá Beav). O sexto jejum do ano é o Jejum de Ester (Taanit Ester), que foi decretado pelos sábios depois da era dos profetas.

Assará Betevêt – o dia 10 de Tevêt

Desde o dia em que entrou na Terra Prometida, sob a liderança de Josué, o sucessor de Moisés, o povo de Israel ali viveu durante 850 anos; após 20 gerações, o maldoso Nabucodonosor, rei da Babilônia, atacou os israelitas e os obrigou a se exilarem. Desse período, 440 anos transcorreram até o Rei Salomão construir o primeiro Templo e outros 410 anos se passaram até os exércitos dos caldeus o destruírem.

Quando o povo de Israel entrou na Terra Prometida pela primeira vez, ele estava destinado a permanecer ali eternamente, pois Deus tinha dito a Abrahão (Gênesis 13:15): “Porque toda a terra que tu vês, a ti darei e à tua descendência, para sempre.” Deus só impôs uma condição (Levítico 20:22): “Guardareis todos os Meus estatutos e todos os Meus juízos, e os fareis; para que a terra, na qual vos hei de levar para morardes nela, não vos vomite.” E (ibid. 18:28): “Para que a terra não vos vomite ao impurificarem-na, como vomitou a nação que estava antes de vós.”

Os sábios (Pessicta de Echá Rabá) disseram:

“A que as 10 tribos e as tribos de Judá e Benjamim podem ser comparadas? A duas pessoas que iam usar uma capa nova durante a estação chuvosa; uma começou a puxar de um lado e a outra do outro lado, até que o manto se rasgou. Da mesma forma, as 10 tribos não abriram mão de adorar ídolos na Samaria e as tribos de Judá e Benjamim não abriram mão de adorar ídolos em Jerusalém, causando a destruição de Jerusalém.

 No 10º dia do 10º mês do 9º ano de seu reinado, Nabucodonosor, o rei da Babilônia, veio contra Jerusalém, ele e todo o seu exército, e se acampou contra ela, e levantou contra ela tranqueiras em redor. E a cidade foi sitiada até ao 11º ano do Rei Zedequias. No dia 9 do 4º mês, quando a fome estava forte e não havia pão para o povo da terra, a cidade foi rompida” (2 Reis 25:1-4).

No 10º dia do 5º mês… Nebuzaradã, o capitão da guarda, apresentou-se… e ateou fogo à casa do Eterno, ao palácio do rei, a todas as casas de Jerusalém… e derrubou os muros em redor de Jerusalém… e os remanescentes da multidão, o capitão da guarda Nebuzaradã levou cativos” (Jeremias 52:12).”

Vê-se então que o dia 10 de Tevêt foi o início de uma cadeia inteira de calamidades, que findou tragicamente com a destruição do Templo.

Sitiados e correndo perigo

Como vimos anteriormente, durante o cerco de Jerusalém a fome imperou. A Pessicta Rabatí 26 relata o seguinte:

“As filhas de Tsión se encontraram no mercado e ao se verem, uma disse: “Por que você veio ao mercado? Você nunca fez isso na sua vida!” E a outra respondeu: “Preciso esconder de você a verdade? A fome está muito difícil e eu não consigo suportá-la.” Elas então saíram juntas em busca [de comida] por toda a cidade mas nada encontraram. Acabaram se apoiando nas colunas e morreram, cada qual no seu canto. E os filhinhos delas engatinharam, cada um reconhecendo a sua mãe, e subiram nelas e tentaram mamar, mas não havia leite para sugar. E eles morreram ali no colo de suas mães.”

No Ialcut Shimoní (Echá 1) os nossos sábios escrevem:

“Quando o malvado [Nebuzaradã] chegou a Jerusalém junto de seus aliados, ele pensou que conseguiria conquistar a cidade rapidamente. Mas Deus fortaleceu os seus habitantes até o terceiro ano [do cerco], com a esperança de que se arrependessem. Havia muitos homens corajosos em Jerusalém, que lutaram contra os caldeus e mataram muitos deles, dentre os quais um poderoso guerreiro chamado Akiva ben Guevirti. Quando os soldados inimigos lançaram grandes pedras sobre as muralhas tentando arrombá-las, ele as agarrou com as próprias mãos e as atirou de volta sobre os soldados inimigos, matando muitos deles. Ele até chegou a parar as pedras com os pés e a chutá-las de volta sobre o inimigo. Mas os pecados da cidade fizeram com que vacilasse, e uma forte rajada de vento empurrou-o do alto da muralha, causando a sua morte. Então as muralhas de Jerusalém foram derrubadas e os caldeus invadiram a cidade.”

 

Jejuar para corrigir os pecados

O Rambam (Maimônides) escreve o seguinte (Leis de Jejuns 5):

“O jejum de 10 de Tevêt é igual aos demais jejuns estabelecidos como luto pela destruição do Templo e pelo exílio do povo de Israel. No entanto, o propósito principal desses jejuns não é tristeza e luto, pois a angústia sentida quando da ocorrência dos eventos foi suficiente. Pelo contrário, o objetivo fundamental dos jejuns é inspirar as pessoas a se arrependerem, para fazer com que recordem as maldades cometidas pelos nossos antepassados, bem como os nossos próprios atos – que acarretaram, a eles e a nós, muitas tribulações. Quando recordamos tudo isso nos arrependemos e agimos corretamente, conforme o versículo (Levítico 26:40) declara: ‘E confessarão a sua iniquidade e a iniquidade de seus pais pela sua falsidade que cometeram contra Mim’.”

Todos os jejuns que foram decretados devido à destruição do Templo de Jerusalém serão anulados quando o Mashíach [Messias] chegar. Além disso, esses dias serão transformados em festas, conforme consta (Zacarias 8:18-19): “E a palavra do Eterno dos Exércitos veio a mim, dizendo: Os jejuns do quarto, do quinto, do sétimo e do décimo mês tornar-se-ão alegria, regozijo e motivo de festa para a Casa de Judá…” [sendo que “quarto,” “quinto,” “sétimo” e “oitavo” se referem aos meses contados a partir de Nissán, qual sejam: Tamuz, Av, Tishrei e Tevêt].

O Livro do Conhecimento Judaico


Extraído do LIVRO DO CONHECIMENTO JUDAICO,
de Eliyáhu Kitov
Páginas: 656

Verdadeira enciclopédia de conhecimento judaico, descreve e comenta profundamente o calendário judaico – seus dias de festa e de jejum, de alegria e de tristeza -, bem como o significado de suas leis e costumes, acompanhado de rico manancial de comentários do Midrash e de ideias inspiradoras de sábios antigos e contemporâneos. É livro obrigatório em cada lar judaico e biblioteca.

Preces de penitência

Nos jejuns públicos são recitadas selichót – preces de penitência. A seguir, a tradução de duas dessas preces recitadas na manhã do jejum de 10 de Tevêt.

Éven haroshá

Do Templo, nossa pedra angular, restaram escombros; seu solo foi arado, e os herdeiros da Torá se tornaram uma abominação entre as nações.

Meu coração sofre dentro de mim, aflito e angustiado, pois ficamos como se não tivéssemos pai, e órfãos fôssemos.

Antes terna e delicada, rodeada de rosas, agora a nação de Israel jaz triste e entregue nas mãos de seus inimigos.

Qual uma viúva ficou a cidade outrora fiel, e seus incontáveis filhos foram vendidos de graça.

A delicada e terna, que antes prosperava em seu reinado, seu sofrimento se prolonga há muitos anos.

A Casa de Jacob se tornou objeto de zombaria, desprezo e escárnio, e a outrora cidade jubilosa, um mero vinhedo se tornou.

Intoxicada pelo veneno dos iníquos encontra-se a cidade que outrora respirava o aroma das ofertas queimadas e dos incensos.

Porquanto desdenhou e abandonou a Torá de Moisés, não mais encontra descanso nem de dia nem de noite.

Ó temível e altíssimo Deus! Que seja a Tua vontade fazer com que chegue o ano da retribuição pelo sofrimento de Tsión!

Restaura nossos dias como outrora, ó Deus imemorial que escolheu os céus para Sua Morada! Alveja o escarlate dos nossos pecados como a lã, e que as nossas manchas se tornem brancas como a neve.

Fortalece o nosso temor a Ti e o nosso cumprimento da Tua Torá, e recorda de nós com Tua salvação, ó Deus pleno de misericórdia.

 

Avotai ki vatechú beshém

Enquanto os meus antepassados depositaram sua confiança no nome do Deus da minha proteção, eles se tornaram grandes, bem-sucedidos e frutíferos, mas do momento que se apartaram Dele e agiram perversamente, foram decaindo cada vez mais até o décimo mês.

No décimo dia do mês, o rei da Babilônia investiu e sitiou a cidade santa, e o capitão (Nevuzaradan) se aproximou, e fui entregue para ser pisoteado e torturado com grilhões. Então, cada vez que chega esse mês, minha harpa se cobre de luto.

Sua “primícia” (Israel) foi a primeira a ser destruída, pois mencionou o nome de outros deuses, e este pecado provocou tudo isso; por não reconhecer a presença de Deus, foi levada pela correnteza, e mesmo sofrendo como uma mulher no seu primeiro parto, ela persistiu se rebelando contra os Céus.

Deus trouxe um dia de aflição e cerco, e instruiu os inimigos que me cercavam a destruir meus pequenos, e nesse dia o meu coração esmoreceu e não teve força para resistir. Então Ele disse ao profeta (Ezequiel): “Conta-lhes essa parábola à casa rebelde.”

Dos sábios que se sentavam junto aos portões Ele retirou o manto; Sua fúria ardeu como fogo, e Ele levantou a coroa e arremessou longe a glória do Bosque do Líbano (Templo), e o furioso vento e a tempestade eriçaram o pelo de minha carne.

Tu, que foste enaltecida por tua beleza, agora jaz nas trevas, pois tropeçaste no pecado e teu coração se retraiu; te angustiaste e te debilitaste na primeira e na segunda destruição, e não foste enfaixada nem sequer com um pouco de bálsamo.

A Rocha justa e perfeita cansou-Se de suportar a iniquidade deles, e Sua Presença voou do querubim ao canto do teto do Templo por causa de seus indeléveis pecados e do grito pecaminoso que chega a Ele tão somente quando o mal que se abate sobre eles é abundante como uma árvore frutífera.

Aquele que conta as ações do homem fortaleceu os meus inimigos, pois meus dias se preencheram de más ações, e por causa dos atos vergonhosos da minha juventude esqueci as generosidades Daquele que provê o meu pão e a minha água, a minha lã e o meu linho.

Os meus inimigos escancararam suas bocas e destruíram a minha herança; sobrepujaram-me e beberam e sugaram o meu sangue; estranhos me acossaram e maltrataram os meus irmãos – especialmente os descendentes de Seír (Esaú), o chorita, que exclamaram: “Arrasai-a! Arrasaia-a!”

Eles disseram: “Vamos, destruamos e apaguemos sua memória.” Ó Deus zeloso e vingador, retribuí-lhes de modo que sejam castigados! Paga-lhes conforme suas ações e faz com que se envergonhem de suas esperanças, assim como aquele que sonhou com as três cestas de pão.

Minhas feridas não foram suavizadas, nem minhas chagas mortais; meus olhos ficaram turvos de tanto aguardar por meu resplandecente Amado; acaso Sua ira jamais se aplacará? Por que Ele age assim e por que este furor?

Ó Misericordioso, meu Deus! Não me abandones para sempre! Os dias de meu luto já se prolongaram e meu coração ainda suspira. Ó Deus, retorna à minha tenda e não abandones o Teu Templo! Finda os dias de meu luto e concede a minha recompensa.

Ó Eterno, Porção da minha herança! Apressa-Te em meu auxílio e substitui meu traje de martírio por roupas de alegria. Ilumina minha escuridão com a Tua luz que ilumina a noite na qual me regojizarei, pois Tu és minha luz.

Redime minha alma da tristeza e dos gemidos, ó Deus, e concede alívio ao Teu povo, ó meu Rei e Santíssimo! Transforma em alívio o jejum do quinto mês (Av), e em júbilo e alegria os jejuns do quarto (Tamuz) e do décimo (Tevêt) meses.

 

Sidur Completo

 

Preces extraídas da nova edição do SIDUR COMPLETO – e que não constam das versões anteriores.

Sidur Completo com Tradução e Transliteração – Edição Revisada e Ampliada
Autor: Jairo Fridlin
Páginas: 1600

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