A Torá nos ordena a observar três festas: Pêssach, Shavuót e Sucót. Correspondentes a elas, que se encontram mencionadas explicitamente na Torá Escrita, se concedeu aos sábios a capacidade – na condição de mestres da Torá Oral – de estabelecer outras três festas, que constituem um reflexo da luz clara da Torá Escrita que as ilumina, assim como a Lua reflete a luz do Sol. Quando o povo de Israel aceitou observar as três festas ordenadas por Deus, elas deixaram marcas tão profundas que permitiram o estabelecimento de outras festas, que são iluminadas pela luz das originais.
Sendo assim, a luz de Chanucá é um reflexo da luz de Sucót e Sheminí Atséret – da “época de nossa alegria”. Sucót evoca o povo israelita seguindo fielmente Deus pelo deserto, entrando no refúgio de Sua fé [a sucá], alegrando-se e estendendo o período de alegria por mais um dia no Sheminí Atséret. Toda essa “luz” marcou tanto as suas almas que, mesmo ao enfrentarem inimigos que pretendiam afundá-los na escuridão e separá-los de seu Criador, eles tiveram o mérito de optar por abandonar a escuridão e se expor à luz, e viver mais uma vez no refúgio de Sua fé sem interferências. Além disso, eles mereceram uma nova luz, a luz de Chanucá, cuja alegria essencial é expressada pela aderência à Torá e suas mitsvót.
A luz de Purim é um reflexo da luz de Shavuót – a “época da entrega da Torá”. Os israelitas, no pé do Monte Sinai, declararam naassê venishmá (Êxodo 24:7): – “Nós faremos e ouviremos”. Eles firmaram um pacto perpétuo com Deus, uma aliança que é renovada a cada geração, uma aliança que marcou as suas almas. Mesmo quando ficaram subjugados a um rei “duro” que decretou a aniquilação de todos os judeus, eles reafirmaram a aceitação do pacto original de “Nós faremos e ouviremos”. Além disso, eles mereceram uma nova luz, a luz de Purim, cuja alegria intrínseca é o estabelecimento de um novo pacto por meio do qual comprometem-se desejosos a manter tudo aquilo que já foi recebido.
Quando de nossa redenção final – que ela ocorra rapidamente em nossos dias! –, uma nova luz brilhará sobre o povo de Israel, um reflexo da luz da redenção de Pêssach. Ela brilhará pelo povo não ter desistido de ser redimido, por ter esperado diariamente pela salvação e por manter a alegria da primeira redenção mesmo nas horas mais sombrias de seu exílio. Em relação a esse dia vindouro, os nossos profetas disseram: “Como nos dias de tua saída da terra do Egito, mostrar-lhe-ei coisas maravilhosas” (Miqueias 7:15) e “Por isso, aproximam-se os dias – diz o Eterno – em que não mais se dirá: Assim como vive o Eterno, que retirou os filhos da terra do Egito. Mas, sim: Assim como vive o Eterno, que trouxe os filhos de Israel da terra do norte e de todas as nações para onde os tinha dispersado, pois os trarei de volta para a terra que dei a seus antepassados” (Jeremias 16:14-15).
Os nossos sábios disseram: “Mesmo se todas as outras festas fossem abolidas, as festas de Purim e Chanucá não seriam anuladas.” Isso pode ser comparado a um homem que recebeu uma quantia para investir em um negócio. Ele investiu e obteve um grande lucro. Mesmo que mais tarde a pessoa que concedeu o empréstimo retome o valor que emprestara, aquilo que o homem lucrou por conta própria será dele.
O mesmo ocorre com as festas que a Torá ordenou; elas foram outorgadas graciosamente aos israelitas, pois eles careciam de méritos para ganhá-las por conta própria. Já as festas de Chanucá e Purim foram conquistadas graças aos seus méritos – por eles terem se disposto a sacrificar-se pela pureza de sua fé em Chanucá, e por terem aceito voluntariamente o pacto da Torá em Purim. Esses méritos tiveram uma dimensão ainda maior diante do estado de opressão e escravidão em que se encontravam.
Somos todos iguais em chanucá e purim
Já que Chanucá e Purim foram conquistas do povo de Israel pelo mérito de seus próprios atos, a santidade dessas festas é vivenciada de igual maneira por todos os judeus, onde quer que vivam.
Segundo os nossos sábios, é por isso que a celebração dessas festas não tem um dia adicional fora da Terra de Israel, diferentemente das festas que foram ordenadas explicitamente pela Torá. Além da dúvida quanto ao dia exato em que a festa deveria ser observada, há uma outra razão para a celebração de um dia adicional fora da Terra de Israel. Quando estamos na diáspora, carecemos de força espiritual suficiente para absorver a santidade da festa em um único dia. Mas estando na Terra de Israel, a santidade da terra nos auxilia na absorção da santidade da festa. Chanucá e Purim, no entanto, são festas que os judeus conquistaram por mérito próprio. A santidade delas, portanto, está mais próxima da essência do povo de Israel, sendo mais fácil desfrutá-la e captar o seu brilho – mesmo fora da Terra de Israel; consequentemente, elas não necessitam da adição de mais um dia.
Trecho extraído da obra O Livro do Conhecimento Judaico, O Ano Hebreu e seus Dias Significativos, de Rabino Eliahu Kitov. Editora Sêfer.