Na sequência do nosso calendário, encontramos agora uma data que citamos anteriormente como sendo considerada o Ano Novo das Árvores. É uma data sem relação com feitos históricos ou religiosos, mas que evidencia a íntima relação entre Am Israel e Érets Israel, e o amor que o nosso povo tem à natureza e, em particular, às árvores.
A Diáspora, ao desarraigar Am Israel de sua terra, não conseguiu extirpar esse carinho, que permaneceu em sua memória, mesmo que vagasse por regiões onde, na época correspondente ao mês de Shevat, houvesse somente neve e frio ou sol ardente e aridez.
Hoje, de volta à sua terra, o povo judeu comemora essa data plantando árvores e flores, e incutindo nos jovens um sentimento ecológico de amor ao solo e ao que ele produz.
O homem e a árvore
Conta-se que existiu, certa vez, um homem rico e poderoso que se julgava superior a todos os outros, em função dos bens que conseguira acumular.
Habituado a ver qualquer desejo seu prontamente atendido, considerava a vida insípida e tediosa. Sua riqueza já se multiplicava sozinha, sem necessidade de sua intervenção, e ele a todos se queixava pela falta de sonhos a realizar e objetivos a alcançar.
Porém, por uma reviravolta do destino, sua sorte mudou completamente e, em um espaço de tempo relativamente curto, se viu reduzido à extrema miséria.
Verificou, um dia, que de sua outrora imensa fortuna só restavam duas insignificantes moedas.
Amargurado, duvidando se valeria à pena continuar a viver na condição de penúria a que chegara, resolveu dar um último passeio por uma galeria de lojas e encontrar, para as duas moedas, a melhor aplicação possível.
Deteve-se ante a vitrine de uma padaria que exibia grande variedade de pães e doces. Enquanto observava esses produtos, teve sua atenção despertada pelo que se passava numa loja vizinha àquela, onde eram vendidas plantas e flores. De lá saíra um cliente, seguido pelo vendedor, que portava um vaso com uma roseira e insistia: “Compre esta roseira! Ela está muito barata. Reduzo seu preço para uma moeda.” Ao que lhe respondeu o cliente: “Não me interessa sua oferta. Estas rosas estão fenecidas e me exigiriam muito trabalho para fazê-las vicejar de novo.” O ex rico aproximou-se, examinou as raízes da roseira, que não pareciam estar estragadas, e tomou uma resolução. Com uma moeda comprou um pão e, com a outra, o vaso de rosas.
Alguém que o observava e que tinha conhecimento das provações pelas quais estava passando, exclamou: “Você realmente enlouqueceu! Na situação em que você está, compreendo por que comprou o pão, mas por que desperdiçou uma moeda com esta roseira?” A resposta que recebeu foi: “Comprei o pão para sobreviver, e as rosas, para ter uma razão para viver.”
Creio que a todo ser humano não basta sobreviver. Ele necessita também ter uma razão para viver. Para o povo de Israel, a Torá tem sido, através dos tempos, sua Ets Chaim, a Árvore da Vida, a razão de sua existência, a fonte onde mitiga sua sede de justiça e onde encontra alívio para os sofrimentos que o atingem. De sua seiva, recebe energia e força para não se deixar destruir e para manter, mesmo na adversidade, coragem para lutar, capacidade para buscar um futuro melhor e inspiração para sustentar a continuidade da sua inabalável fé no Eterno.
Os ensinamentos da Torá sempre fizeram com que não fôssemos arrogantes em momentos de grandeza, nem desesperançados ante os sofrimentos que nos reservou a história.
Hoje em dia, por não ter tido a oportunidade de conhecer o mundo da Torá, há, entre nós, aqueles que buscam encontrar felicidade em filosofias e entretenimentos vazios de significado, que acabam por levá-los de uma frustração à outra.
Como abrir, para esses, o caminho do retorno, que os possa levar a compreender a mensagem, a filosofia, os ensinamentos e o significado existencial da nossa herança espiritual?
A celebração de Rosh Hashaná Lailanot – o Ano Novo das Árvores – nos traz à mente analogias entre o homem e a árvore estabelecidas por nossos sábios, que poderiam se constituir na chave necessária para abrir a porta de acesso a este caminho.
Encontramos no Pirkê Avót (livro de ensinamentos éticos) o seguinte:
“A que se assemelha aquele que muito estuda, mas que pouco se aplica na prática do bem? A uma árvore de copa frondosa mas de raízes frágeis, incapaz de resistir a uma ventania mais intensa.
A que se parece aquele que muito estuda e se dedica, com toda sua capacidade, a maasim tovim, a prática de boas ações? A uma árvore de copa frondosa, cujas raízes são fortes e profundas, capaz de resistir aos vendavais que a possam acossar.”
* * *
O Talmud assinala que, na época do Bet Hamicdash (nosso Templo sagrado), quando nascia uma criança, uma árvore era plantada. Cresciam juntas, a criança e a árvore, e ao chegar à época do casamento, com seus galhos se faziam os suportes da chupá (pálio nupcial) sob a qual se realizaria a cerimônia.
A árvore, fincando no solo raízes profundas, podia dar como fruto as hastes da chupá, simbolizando assim que a semente plantada com o casamento – o novo lar – seria forte, atravessaria galhardamente o tempo e seria frutuosa, desde que tivesse também raízes profundas.
Raízes, palavra-chave para a qual apontam estes comentários!
E nossas raízes mergulham na história do nosso povo, na moral, na ética e na fé judaica, na mensagem do Sinai, nos ensinamentos dos nossos sábios, nas tradições que se mantiveram através de centenas de gerações.
Raízes que se renovam e se aprofundam em cada época, e que permitiram o surgimento e a floração de novos ramos, após cada vendaval, e o reinício do crescimento, após o fogo destruidor de cada acontecimento trágico.
Raízes que, plantadas pelas mãos dos pioneiros, fizeram frutificar o deserto, drenar os pântanos e tornar o bimilenar sonho de reconstrução de Israel uma realidade.
Está ao nosso alcance nos ligarmos a estas raízes e buscar, no estudo da Torá, a orientação e o significado de nossa existência.
Se o fizermos, alcançaremos uma permanente motivação para a vida e poderemos ser verdadeiramente comparados às árvores de raízes fortes e profundas, capazes de resistir às tempestades da vida, cujas ramagens entrelaçadas possam proporcionar sombra confortadora e vivificante, cujos frutos perpetuem a existência de Am Israel, cujo aroma evoque sentimentos de compreensão entre todos os povos, e cujo crescimento seja a expressão de bênçãos continuamente renovadas.
Que a comemoração de Tu Bishvat a cada ano possa ser caracterizada não somente pelo plantio de árvores, que embelezam a natureza, mas também pela resolução – por parte daqueles que se afastaram do nosso caminho – de buscar suas raízes e plantar em seus corações as sementes que se tornarão, com o tempo, ramos da nossa Ets Chaim, a Árvore da Vida.
Extraído da obra
Na Espiral do Tempo – Uma Viagem pelo Calendário Judaico,
de David Gorodovits
Ótima matéria adorei. M
Infelizmente não consegui baixar o Calendário.
Gratidão pela oportunidade de receber os ensinamentos e ter a compreensão !!
Shalom!
Tudo que vem do povo ,da Torah e de Israel é ouro preciso do Eterno para mim …
Bom dia.
Excelente reportagem, no portfólio da livraria tem calendário de meses.?
Distribuímos gratuitamente no começo do ano, vale a pena ligar na loja e ver se ainda está rolando esta promoção.
Amei o texto. Lindo e muito ensinamento e sabedoria. Muito a ser refletido . Grata
Muito bom e interessante i o texto. Lindo e muito ensinamento e sabedoria. Muito a ser refletido . Grata
Belíssimo estudo de sabedoria Universal….. muito obrigado por compartilhar conosco !!!!