O dia de Tu Bishvát, 15 de Shevát, é uma das quatro datas do ano caracterizadas como Rosh Hashaná (Ano-Novo). As outras são: 1º de Nissán, 1º de Elul e 1º de Tishrei.
O dia 1º de Nissán é Ano-Novo para o cálculo dos anos de reinado dos reis de Israel. Assim, se um rei tivesse sido ungido no mês de Adar, o mês seguinte, Nissán, seria considerado como o início do segundo ano de seu reinado. O dia 1º de Nissán serve também de Ano-Novo para a contagem das festas de peregrinação. Se alguém prometesse trazer um sacrifício para o Templo de Jerusalém, uma opinião no Talmud considera que essa promessa só seria violada depois que três festas de peregrinação – contadas a partir de Pêssach, no mês de Nissán – passassem sem que a oferenda tivesse sido trazida. Assim, se um indivíduo fizesse essa promessa antes de Shavuót, ele poderia cumpri-la até depois de Sucót do ano seguinte, uma vez que a contagem das festas de peregrinação começa no mês de Nissán.
O dia 1º de Elul é Ano-Novo para o dízimo dos animais. Os animais nascidos antes dessa data são considerados como nascidos no ano anterior. Os nascidos após o dia 1º de Elul não podem ser somados aos primeiros para determinar a quantidade total do dízimo, já que não é permitido separar o dízimo de animais nascidos em um ano para cumprir a obrigação correspondente aos nascidos em outro ano.
O dia 1º de Tishrei é Ano-Novo para o julgamento da humanidade, para o cálculo dos ciclos dos anos de shemitá e iovêl (ano sabático e jubileu), para o cálculo de orlá [os primeiros três anos de uma árvore frutífera, quando não é permitido comer de seus frutos] e para os dízimos de cereais e vegetais.
O dia de Tu Bishvát, 15 de Shevát, é considerado Ano-Novo das árvores, em relação ao requerimento de separar o dízimo de seus frutos. Os dízimos que a pessoa tem obrigação de separar da produção agrícola diferem a cada ano (à exceção do maassêr rishón, o “primeiro dízimo”, que vigora em todos os anos por igual). Nos anos 1, 2, 4 e 5 a contar do ano sabático de shemitá, é preciso separar o maassêr shení (o “segundo dízimo”) e consumi-lo em Jerusalém [ou redimi-lo por dinheiro, a ser usado na aquisição de alimentos que deverão ser consumidos em Jerusalém]; e nos anos 3 e 6 é preciso separar o maassêr aní (o “dízimo do pobre”). Não é permitido separar dízimo do fruto crescido em um ano para cumprir a obrigação de dízimo do fruto crescido em outro ano. O dia 15 de Shevát marca o início de um novo ano, no que diz respeito a frutos. Os frutos que começam a surgir – chanatá, na terminologia haláchica, ou seja, quando a flor cai e o fruto começa a surgir em seu lugar – depois de Tu Bishvát, são considerados produto do novo ano. Conforme mencionado acima, cereais e frutos são considerados de outro ano quando colhidos após o dia 1 de Tishrei.
O dia de Tu Bishvát é considerado também Ano-Novo para a finalização do cômputo dos anos da orlá. Embora contemos os anos da orlá a partir do dia 1 de Tishrei, esse período finda após o dia de Tu Bishvát do terceiro ano. Por exemplo, se alguém plantar uma árvore antes de Rosh Hashaná, os frutos dela permanecem como orlá – e consequentemente proibidos – até que aconteça a chanatá – o surgimento de frutos – depois do dia de Tu Bishvát do terceiro ano, três anos e meio após a sua plantação. [Vale notar que as árvores plantadas antes de 16 de Av são consideradas como tendo um ano de vida após o dia 1º de Tishrei, ao passo que as plantadas após o 16 de Av são consideradas como tendo um ano de vida só depois do dia 1 de Tishrei do ano seguinte].
O dia de Tu Bishvát é considerado também Ano-Novo para as leis de neta revai – o fruto produzido pela árvore no seu quarto ano, que só pode ser consumido em Jerusalém ou redimido por dinheiro a ser usado na aquisição de alimentos que deverão ser consumidos em Jerusalém.
Segundo algumas autoridades rabínicas, o Tu Bishvát também é considerado Ano-Novo com relação às leis que regulamentam o fim da shemitá; assim, os frutos que começam a surgir antes de Tu Bishvát do oitavo ano são considerados produtos do sétimo ano, do ano de shemitá.
Os nossos sábios determinaram que o dia 15 de Shevát é o limite entre um ano e outro com relação a árvores frutíferas, uma vez que até essa data, a maioria da chuva do ano já caiu. Portanto, os frutos crescidos a partir de então são considerados produtos do novo ano.
Além disso, no dia 15 de Shevát, o solo já está saturado com as chuvas do inverno, de modo que as árvores plantadas após Tu Bishvát têm a garantia de desenvolver raízes firmes e dar frutos.
Um Rosh Hashaná em dia comum
Muito embora o dia 15 de Shevát também receba o título de “Rosh Hashaná”, a designação só se aplica aos assuntos relativos a essa data, conforme vimos acima. Mas o dia não é caracterizado pela proibição de trabalhar, pela obrigação de uma refeição festiva ou de alegrar-se, nem por preces especiais.
Mesmo assim, o dia de Tu Bishvát é dotado de algumas características festivas. A prece de tachanun é omitida da reza de Shacharit e também da reza de Minchá do dia anterior; não são feitos discursos fúnebres pelos falecidos; e se a data cair no Shabat, não se recita a prece de Av harachamím, uma vez que ela é dita em homenagem às almas dos falecidos.
Costuma-se comer frutos que crescem na Terra de Israel, e também comer frutos que ainda não se tenha ingerido nessa estação, para poder recitar a bênção de shehecheiánu.
A razão para o clima festivo desse Rosh Hashaná das árvores [diferentemente do clima do Rosh Hashaná do dia 1º de Elul, que é observado sem nenhuma diferenciação] é que o Tu Bishvát evidencia o louvor à Terra de Israel – pois nesse dia o solo resistente de Israel se renova e começa a apresentar a nova produção agrícola e a demonstrar a sua bondade inerente. E é principalmente em relação aos frutos das árvores que a Torá louva a Terra de Israel, conforme o versículo (Deuteronômio 8:8) declara: “Terra de trigo e de cevada, de parreira, de figueira e de romeira; terra de oliveira que dá azeite, e mel.” O versículo fala de dois tipos de cereais e cinco tipos de frutos ao descrever a riqueza da Terra de Israel. O mel que o versículo menciona refere-se ao mel de tâmaras. Assim, o dia em que o solo da Terra de Israel recebe um vigor renovado é um dia de alegria para o povo de Israel, que possui essa terra, a ama e anseia por ela.
Quando os israelitas comem dos frutos da terra e se deliciam com os seus sabores, eles oferecem bênçãos antes e depois de desfrutar deles, agradecendo a Deus por lhes ter legado essa terra preciosa. Rezam para que Deus renove a juventude da terra – e deles mesmos – como nos dias antigos e conforme tudo o que Ele prometeu a Abrahão, Isaac e Jacob, nos termos do versículo que louva a Terra de Israel (ibid. vers. 10): “E comerás, te fartarás e louvarás ao Eterno, teu Deus, pela boa terra que te deu.”
Há mais uma razão para a observância especial de Tu Bishvát; por ser o Rosh Hashaná das árvores, esse dia é propício para prece e julgamento para as árvores. É dessa maneira que Deus governa o mundo: à medida que cada uma das Suas criações começa a crescer, Ele examina todo o futuro dela, e esse é o melhor momento para rezar pelo seu sucesso. Além disso, a Torá (ibid. 20:19) equipara o homem às árvores do campo; assim, esse dia faz recordar também, de uma certa forma, o juízo Divino sobre o homem. O povo de Israel possui uma índole tão especial, que se regozija em um dia de julgamento. Qualquer que seja o resultado do julgamento, todos veem que há julgamento e que há Juiz!
Orando por um belo etróg
Na obra Benê Issachar consta o seguinte:
Recebemos de nossos pais a tradição de orar em Tu Bishvát para que Deus nos proporcione um etróg adequado e muito belo para que possamos cumprir a mitsvá com capricho – pois é nesse dia que a seiva sobe nas árvores, e o etróg que viermos a obter depende do mérito pessoal de cada um. Portanto, é bom e prazeroso para a pessoa que reze nesse dia, quando o novo fruto começa a crescer, para que Deus lhe dê – na hora certa – um belo etróg. Certamente a sua prece dará frutos!
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Texto extraído da obra
Tu B’Shevat, 15 de Shevat no Calendário Judaico é o dia que assinala o início do “Ano Novo das Árvores”. Essa é a estação na qual as primeiras árvores a brotar na Terra de Israel emergem do seu sono de inverno e iniciam um novo ciclo de produção de frutas.