Kalba Savua adquiriu este nome incomum graças aos seus atos incomuns.
Um homem rico, que detinha muitas terras, mas que era também generoso e hospitaleiro. Sua casa estava sempre aberta para todos os pobres e famintos. Quem entrasse em sua casa faminto como um cão, era o que se dizia, saía satisfeito.
Quando Kalba Savua descobriu, deserdou a filha e mandou-a embora. Em sua necessidade, o jovem casal foi morar em uma cabana ao lado de uma fábrica de tijolos. A palha que era usada para a confecção dos tijolos era armazenada ali. Eles dormiam sobra a palha e cobriam-se com ela para manterem-se aquecidos.
Akiva concordou em partir para estudar Torá durante doze anos. Ele foi estudar com o rabi Eliezer ben Hurcanos e o rabi Iehoshua ben Chanania, deixando Rachel vivendo sozinha na pobreza. Concluídos estes doze anos, ele retornava para casa acompanhado de muitos alunos. Ele estava prestes a bater na porta, quando ouviu vozes vindas de dentro. Ele reconheceu a voz de uma vizinha maliciosa: “Veja, teu pai tinha razão quando a deserdou e a mandou embora. O teu marido é um inútil que a abandonou.”
Mas Rachel respondeu: “Se ele me perguntasse, eu diria a ele que ficasse mais doze anos na casa de estudos.”
O rabi Akiva não entrou, pois Rachel havia lhe dado a permissão para estudar por mais doze anos. Ele virou-se e retornou aos seus estudos.
Doze anos depois, ele era um sábio conhecido, com um rebanho de vinte e quatro mil alunos. Quando ele retornou para casa desta vez, estava acompanhado de todos eles. A cidade se preparou para receber o grande homem que viria viver entre eles. Uma grande multidão aglomerou-se na entrada da cidade, e todos avançavam para estar o mais próximo possível do justo.
Rachel saiu de casa e estava prestes a ir dar as boas-vindas ao marido que voltava, ao grande estudioso. Quando as vizinhas a viram, disseram: “Como você pode ir usando um vestido tão simples?” Ela retrucou: “Um grande homem como Akiva não desdenhará de mim, mesmo se eu vier vestida simplesmente.”
Ela o viu de longe e forçou o caminho ao tentar se aproximar. Quando chegou à frente, lançou-se aos seus pés. Os talmidim, os alunos que cercavam o rabino, tentaram afastá-la pensando se tratar de uma mulher comum, mas o rabi Akiva a reconheceu e disse para eles: “Deixem-na! Pois a vossa Torá e a minha Torá pertencem realmente a ela! Pois ela me inspirou a estudar; ela concordou em levar uma vida de sofrimento e privação para que eu pudesse estudar”.
“Oh, não!” – Kalba Savua apressou-se a afirmar. – “Se ele tivesse estudado ao menos um capítulo ou uma halachá, uma lei, eu não teria feito tal promessa.”
“Se é assim, então a tua promessa está absolvida. Saiba que eu sou Akiva, teu antigo pastor, e marido da tua filha Rachel.”