No Midrash (Ester Rabá 7) encontramos a “Carta de Haman aos Povos”, escrita em nome do Rei Achashverosh:
“Que haja paz constante entre vocês! Saibam que há entre nós um homem que não é daqui mas que possui linhagem real; ele descende da semente de Amalêc. Ele é um dos maiores nomes da geração. O nome dele é Haman.
“Ele nos fez uma pequena solicitação. Há uma gente que reside entre nós, os israelitas, um povo desprezível e arrogante, que busca o nosso mal e que amaldiçoa o rei. Essas pessoas nos afrontam dizendo: O Eterno reina para todo o sempre; as nações desaparecerão de Sua terra (Salmos 10:16). Outra coisa que costumam dizer: Para infligir vingança contra as nações e para castigar os povos (ibid 149:7). Elas não reconhecem aqueles que lhes trataram tão bem.
“Vejam só o que essas pessoas fizeram ao pobre Faraó! Quando elas desceram para o Egito, o Faraó as acolheu muito bem e as assentou na melhor parte de sua terra. Ele as alimentou durante os anos de fome, dando-lhes o melhor da produção que extraíam de seu solo. Almejando um palácio que fosse seu, ele ordenou a essa gente que o construísse. E apesar de tudo o que fez por essas pessoas, ele não conseguiu dominá-las. Elas usaram de algum subterfúgio para se aproximarem dele e lhe disseram (Êxodo 3:18): Agora iremos, por favor, à distância de três dias no deserto, e ofereceremos sacrifícios ao Eterno, nosso Deus, [e logo regressaremos – empreste-nos vasilhas de ouro e prata, e vestimentas]. Os egípcios lhes emprestaram objetos de ouro e prata e suas roupas mais finas. Os israelitas carregaram as suas mulas ao máximo, até esvaziarem a terra do Egito inteira – e então fugiram.
“Ao saber da fuga, o Faraó perseguiu-os, a fim de recuperar os seus bens. E o que eles fizeram? Havia um homem no meio deles chamado Moisés, filho de Anrão, um grande mago. Moisés tomou o seu cajado mágico e sussurrou um encantamento; em seguida, ele golpeou o mar até que as águas secaram. Toda aquela gente avançou e atravessou o leito completamente seco do mar. Eu não sei como eles passaram nem como o mar ficou seco.
“Vendo o que acontecia, o Faraó foi atrás deles para recuperar os seus pertences. Eu não sei como eles o empurraram para o mar, mas tanto ele quanto o seu exército acabaram afogados! Os israelitas não demonstraram nenhum sinal de gratidão por todo o bem que ele lhes proporcionara – é óbvio que esse é um povo de ingratos!
“Além disso, vejam o que os israelitas fizeram ao meu avô Amalêc, quando este enfrentou-os. E Amalêc veio e lutou com Israel em Refidím (Êxodo 17:8). De onde Amalêc veio? Segundo disse o Rabi Cruspedai, em nome do Rabi Iochanán, ele voltava de Bilam [Balaão], a quem procurara buscando aconselhamento. Amalêc falou para Bilam: Nós sabemos que você dá conselhos e que você é um mestre de ideias [maléficas]; quem segue as suas recomendações pode ficar seguro de que não fracassará. Veja o que esse povo fez aos egípcios – que foram tão bons com eles; imagine então o que eles farão às outras nações! Que conselho você pode nos oferecer?
“Bilam lhe respondeu: Vá e combata-os. Se você lutar contra eles, você vencerá. Os judeus têm o mérito de descender de Abrahão. Já que você também descende de Abrahão, você também poderá contar com esse mérito.
“Imediatamente, eles [os amalequitas] atacaram. O que fez então esse Moisés, que liderava essa gente? Ele tinha um discípulo chamado Josué filho de Nun – um homem cruel e impiedoso. Moisés disse a ele: Escolhe para nós homens e sai, luta com Amalêc! (Êxodo 17: 9). Eu não sei se os homens que ele escolheu eram mágicos ou heróis. Ele tomou o seu cajado na mão, mas eu não sei o que ele fez com o cajado. Quando eles enfrentaram Amalêc, eu não sei que encantamento ele sussurrou, mas [os amalequitas] ficaram enfraquecidos e caíram diante [dos judeus].
“Em seguida [o povo de Israel] atacou os guerrilheiros mais poderosos de nossa terra – Sichón e Og – aos quais ninguém jamais conseguira resistir antes; não sei dizer como, eles os aniquilaram. Então os reis de Midian os atacaram mas os israelitas, não sei como, conseguiram exterminá-los.
“O que mais fez esse discípulo de Moisés? Ele conduziu o povo de Israel à terra de Canaan. Não só roubou a terra, como também matou 31 reis e dividiu-a entre os judeus, sem um pingo de misericórdia. E aqueles que ele não matou, transformou em servos.
“Quando Sísera atacou com os seus exércitos, eu não sei o que os israelitas fizeram, mas o rio Quisom arrastou-os e jogou-os no grande oceano.
“O primeiro rei deles, Saul, combateu na terra de meu avô Amalêc e assassinou 100 mil cavaleiros em apenas um dia! Ele não teve a menor misericórdia e matou homens, mulheres e crianças – eu não sei como ele fez isso! E o que fizeram a Agag, o meu antecessor, a quem em um primeiro momento mostraram piedade! Veio um homem chamado Samuel e despedaçou a carne dele, e a deu de comer aos pássaros!
“Posteriormente eles tiveram um rei chamado David, filho de Ishai. Ele destruiu todos os reinos da região sem piedade. O seu filho Salomão reinou em seguida e erigiu uma edificação para o povo de Israel, chamando-a de Bet Hamicdásh. Eu não sei o que havia no interior dessa casa. Quando eles se preparavam para travar uma guerra, entravam nela e faziam feitiçarias, e, ao sair, assassinavam e destruíam o mundo.
“Havia tanta abundância de bem para desfrutar que eles acabaram se rebelando contra o seu Deus. Além disso, esse Deus envelheceu, pois Nabucodonosor surgiu e incendiou a casa deles, exilando-os de suas terras e os assentando em nosso meio. Eles ainda não mudaram as suas crenças repulsivas. Mesmo estando exilados entre nós, eles desprezam a nossa gente e a fé que temos nos nossos deuses.
“Agora, todos chegamos a um momento de definição. Recorremos a um sorteio para determinar o dia ideal para exterminá-los. A sorte apontou para o dia 13 do mês de Adar. Quando esta carta chegar às mãos de vocês, preparem-se para assassinar e aniquilar nessa data todos os judeus que residirem em seu meio – jovens e anciãos, crianças e mulheres – e não deixem que nenhum deles sobreviva.”
A pintura acima retrata a magnânima festa realizada pelo Rei Achashverósh [Assuero], da Pérsia, durante a qual ele exibiu e usou descaradamente os utensílios sagrados do Templo. Os nossos sábios relatam (TB Meguilá 12a e Midrash Ester Rabá) que os utensílios roubados durante a destruição do Templo foram guardados nos armazéns reais persas, e o rei os trouxe para exibição durante sua festa, a fim de impressionar e alegrar os participantes. Imagem extraída do livro O Templo Sagrado de Jerusalém, de Yisrael Ariel. Editora Sêfer.
Trecho extraído da obra O Livro do Conhecimento Judaico, O Ano Hebreu e seus Dias Significativos, de Rabino Eliahu Kitov. Editora Sêfer.