Em um ano “bissexto” (ou “embolísmico”, que ocorre sete vezes a cada dezenove anos), um segundo mês de Adar é adicionado ao calendário, totalizando treze meses. Em um ano comum (não “bissexto”), Adar possui vinte e nove dias; em um ano “bissexto”, Adar I tem trinta dias e Adar II tem vinte e nove dias.
O calendário judaico atingiu sua forma atual há mais de 1600 anos. Até 359 e.c., o San’hedrin funcionava em Jerusalém como o corpo judiciário supremo na vida judaica. Era o San’hedrin, através de um Conselho Especial do Calendário, denominado Sod ha-Ibúr (literalmente, “segredo da intercalação do calendário”), que determinava quando haveria um ano “bissexto” (ou “embolísmico”) e se os meses de Cheshvan e Kislev teriam vinte e nove ou trinta dias.
Foi preciso intercalar dias ou meses extras no calendário judaico (lunar) para compensar a diferença de onze dias entre os seus 354 dias e o calendário civil gregoriano (solar), que dura cerca de 365 dias.
O Conselho do Calendário do San’hedrin, chefiado por seu presidente, o patriarca Hilel II (330-365), estava preocupado com a sincronização dos dois calendários pelo simples motivo de que os feriados judaicos eram baseados no ciclo solar e tinham de ser observados nas “épocas indicadas”, conforme ordenado na Bíblia. Pêssach, por exemplo, tinha de ser celebrado na primavera. Se não fossem feitos ajustes no calendário, o mandamento bíblico de celebrar o feriado naquela época do ano seria violado, pois atrasando-se onze dias a cada ano, em pouco tempo, Pêssach seria observado nos meses de inverno.
O acréscimo de um mês (Adar II) a cada dois ou três anos (sete vezes em dezenove anos) solucionou a questão dos 11 dias de discrepância entre os dois calendários. Além disso, a cada ano, um dia era adicionado ou subtraído dos meses de Cheshvan e Kislev, conforme fosse necessário. Estes eram os meses “flutuantes”: em certos anos eles tinham vinte e nove dias, em outros anos trinta dias.
O modo exato pelo qual se chegava aos cálculos era um segredo muito bem guardado do San’hedrin. Esta era uma das maneiras pelas quais o San’hedrin conseguia manter o seu poder, o que ocorreu até o ano 359, quando a sua influência enfraqueceu-se e a comunidade judaica da Babilônia (onde o grande Talmud da Babilônia foi composto) tornou-se dominante.
Até o ano 359, a chegada da lua nova era anunciada pelo San’hedrin a cada mês, baseada no depoimento de duas testemunhas oculares que apareciam diante do San’hedrin e eram indagadas a respeito do crescente da lua nova que eles haviam dito terem observado. Se o San’hedrin ficasse satisfeito com a integridade das testemunhas e com seu depoimento, ele então conferia aquele depoimento com seus próprios cálculos (secretos), que tinham sido efetuados antecipadamente usando conhecimento matemático e astrológico. Se tudo estivesse em harmonia, o San’hedrin enviava sinais por meio de tochas, do topo de montanha em topo de montanha, para notificar todas as comunidades de que a lua nova tinha sido vista oficialmente. Em uma época posterior, o San’hedrin resolveu confiar a informação a um mensageiro, em vez de sinalizar por meio de tochas, porque sabia-se que dissidentes, tais como os samaritanos, que não aceitavam a autoridade do Patriarca e de seu San’hedrin, acendiam chamas falsas para confundir a mensagem que estava sendo transmitida.
Quando o Patriarca e sua família tiveram sua liberdade restringida pelos romanos e a situação da comunidade em Israel piorou, Hilel II (330-365) decidiu distribuir cópias do calendário a todas as comunidades. Por meio deste ato, o(s) dia(s) oficial(is) de Rosh Chódesh (início do novo mês) e cada um dos feriados judaicos foi fixado; o depoimento de testemunhas não era mais necessário.
B”H
Shalom.
Gostei muito. Obrigada. Gostaria de um esclarecimento. No meu entendimento o shabat estabelecido por Deus em Êxodo , por ser de um calendário lunar , não tem como ser o sábado do calendário gregoriano. Matematicamente os dois nunca vão coincidir. Sendo assim o shabat do calendário lunar cai em duas diferentes do sábado gregoriano.Está correto meu raciocínio?
Marília, a semana é a mesma, independente do calendário. O que muda é a duração dos meses.
A única diferença é que o dia judaico/lunar começa ao anoitecer e acaba ao pôr do sol. Mas isso não influi na duração da semana.