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Pensamento Judaico

Enfim, a paz!

Paz. Ela buscava essa palavra tão curta, mas com uma dimensão tão imensa.

Ela buscou nas relações familiares, nas babás que dela cuidaram, nas amizades da escola, da faculdade, do trabalho, no amor e na aprovação do outro.

Nos caminhos percorridos ao longo da vida, ela encontrou gente boa, amorosa. Também uma infinidade de espinhos. Normal. Mas, por que, meu Deus, a paz não permanecia dentro dela de forma mais permanente, por que teimava em fazer visitas curtas e ir embora, deixando-a sem entender como retê-la de vez?

Ela, teimosa, não se contentava em viver “pequeno”, pela metade. Na sua vida, tudo era em demasia muita alegria, muita tristeza, muito entusiasmo, muita mágoa. Bendita (ou maldita?) mania de grandeza… Mas não havia jeito, ela não sabia viver na linha do meio, apenas nos polos.

Nos extremos, não há possibilidade de escolha, apenas os sentimentos mais intensos, sejam eles bons ou não. E, assim, ela ia pela vida, exausta de tanto amar, de tanto sofrer, sem medidas.

Ela, idealista e prepotente, não compreendia que o mundo não é o sonho cor-de-rosa que ela gostaria que fosse, que as pessoas são diferentes e possuem as próprias verdades e estilos de viver e de se relacionar. Ao encontrar reciprocidade, sentia êxtase e luz; ao se deparar com o diferente, incompreensão, medo e raiva. E a paz? Esta ia cada vez mais longe, indiferente, sem dar-lhe bola. Soprava-lhe ao ouvido: “Bobinha, eu sou muito mais fácil de se alcançar do que você imagina, mas terá que descobrir o caminho por si mesma. Enquanto isso, entrego-me a quem sabe fazer bom uso de mim. Estarei sempre aqui, aguardando você estar preparada a abrir seus olhos e coração.”

Ela levou meio século, tropeços e ferimentos graves na busca da tal paz. Não a encontrou no trabalho, na família, nos amigos.

Foi só quando ela compreendeu que absolutamente ninguém podia ajudá-la, quando quase caiu no mais absoluto abismo, que descobriu em si mesma a proteção a qual buscara fora de si por toda uma vida. Aos poucos, passou a gostar dessa nova pessoa a qual enxergava todos os dias no espelho, porque via nele o reflexo de uma mulher corajosa, forte. Uma que era cheia de cicatrizes feias, mas valente. Ao se deparar com essa nova imagem, passou a admirá-la, a querer cuidar dela, mimá-la, proporcionar-lhe o carinho, o amor e o cuidado que não podiam vir dos outros.

Foi investindo nessa nova e sagrada relação, que ela, por fim, encontrou a paz. Nesse momento, já não importava se ela estava só ou acompanhada, se fazia programas divertidos ou ficava na tranquilidade do lar. Afinal de contas, soube que, independentemente de qualquer coisa, estaria para sempre acompanhada, acompanhada de si mesma, que seria sua melhor amiga e que, nunca mais se sentiria só, pois enfim… tinha a si e a tão sonhada PAZ.

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Texto extraído da obra Equilíbrio Delicado, de Norma Cohen.

Hoje em dia, todos compartilham suas vidas nas redes sociais, fotos de férias, eventos, frases inspiradoras, quase sempre, todos aparecem sorrindo, aproveitando a vida em algum lugar paradisíaco e vivendo em alegria. Dificilmente alguém expõe fragilidades, incertezas ou feridas. Essa obra transforma posts reais em uma coletânea literária, eternizando o conteúdo honesto e humano que a autora decidiu dividir com seus amigos e também seus leitores.
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