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Introdução ao Judaísmo

Vestimentas judaicas e seus símbolos

O judaísmo tece o compromisso através de todo o tecido da vida, colocando símbolos por toda a parte – até nas roupas que nós usamos.

Algumas destas vestimentas estão associadas à oração, outras para ocasiões especiais e outras ainda são vestidas normalmente durante o dia e nós decidimos ser identificados através delas.
Não se trata aqui das diferentes roupas que os judeus em geral vestem. Por exemplo, o Caftan e o chapéu de pele típico dos Chassidim, ou as roupas pretas. Estes são estilos tradicionais, geralmente copiados de povos vizinhos em diversas etapas da história por seitas individuais, e foram preservados historicamente mas têm pouca relação com as exigências efetivamente feitas pela Halachá.

Talit e Tsitsít

Durante as orações matutinas, os homens põem uma espécie de xale denominado Talit, com franjas pendentes em seus quatro cantos. A Torá exige que todas as vestimentas de quatro cantos tenham estas franjas, ou Tsitsít: “E as vereis e lembrareis de todos os mandamentos do Eterno, e os fareis; e não errareis indo atrás de vosso coração e atrás de vossos olhos, atrás dos quais vós andais errando”. É claro que esta é uma ordem muito elevada para estes pequenos fios cumprirem, mas isto é característico do judaísmo. Precisamos estar cientes de nossa obrigações; a falta de consciência é o estado natural da maioria das pessoas, na maior parte do tempo. Envolta em um manto, a Torá, planejada para nos recordar de Deus, faz com que seja um pouco mais difícil irmos atrás de nossos olhos.
Vestimentas de quatro cantos eram convencionais e eficazes como lembretes naIsrael antiga. Agora que a indumentária mudou, só as vemos durante os serviços religiosos. Os judeus mais religiosos, portanto, colocam um pequeno xale de quatro cantos com Tsitsít, usado diariamente sob as suas camisas para preservar este mandamento em sua foram original. Envolto por este Talit, fica mais difícil deixar nossas mentes se distraírem.
Seria injusto dizer a alguém para que saia da cama sem algo para encorajar a sua fé. A Torá manda usar o Talit, mas este, sozinho, não é adequado. Os itens principais da oração são os filactérios, denominados Tefilín, que consistem em um par de caixas pretas de couro com tiras de couro amarradas suavemente, uma sobre o braço e a outra sobre a cabeça. Estas caixas contêm pequenos pergaminhos em seu interior, onde está escrito o Shemá (“Escuta, ó Israel, o Eterno é nosso Deus, o Eterno é Um!”) e outros versículos bíblicos. Embora este símbolo não seja conhecido fora do judaísmo, sua origem está bem claramente escrita na Bíblia: “E os atarás como sinal na tua mão, e serão por frontais entre teus olhos”. (Deuteronômio 6:8) A Torá Oral completa os detalhes das inscrições, as dimensões e os horários para usar o Tefilín.
Aqui, novamente, a Torá usa objetos concretos do dia-a-dia para nos recordar de nossas obrigações religiosas e morais, e estabelecer uma disposição de evitar que nossos corações se percam, para expressar gratidão e para nos colocar na direção certa. Os Tefilín dão aos judeus uma convenção que dirige o cérebro e as mãos do ser humano para empreendimentos úteis e criativos. Não há símbolo mais definitivo da identidade judaica do que pôr Tefilín. Frequentemente, os homens começam a pôr Tefilín no Bar Mitsvá (símbolo da passagem para a idade adulta, por excelência) e usam-nos todos os dias da semana durante anos até que, de repente, um dia eles param – ou porque entraram para o exército, na faculdade, ou não moram mais com os pais. Este dia é explicitamente recordado como uma mudança em sua vida religiosa, o primeiro momento de compromisso com o mundo secular. Frequentemente, anos mais tarde, aos trinta, quarenta ou até mesmo oitenta anos de idade, alguém lhe oferece os Tefilín novamente – talvez após o retorno à sinagoga por causa da morte de um dos pais – e ele retoma este ato piedoso. Todo o complicado raciocínio e teorias bem construídas não poderiam ter mantido a oração ou a Torá tão vivas quanto estes objetos curiosos e de aparência estranha.

Kipá

Cobrir a cabeça é um sinal de respeito no oriente tanto quanto descobrir a cabeça o é no ocidente. Usar chapéu num restaurante, biblioteca ou reunião de diretoria é sinal de falta de boas maneiras. Não usar um nos serviços religiosos é sinal de pouca fé. Os judeus têm o costume de cobrir a cabeça há pelos menos 2 mil anos, especialmente durante o estudo e a oração; e as mulheres judias casadas, desde os tempos bíblicos.
O Talmud registra que um homem não deve andar mais de sete passos (“quatro amót”) com a cabeça descoberta. Um rabino observou que usar a Kipá, ou solidéu, não torna um homem religioso, mas não usar uma coloca sua religiosidade em dúvida. Hoje em dia é raro que alguém reze com a cabeça descoberta.
Não há forma haláchica prescrita para cobrir a cabeça. O estilo atual de Kipá é uma questão de gosto, e também de identidade. Nos Estados Unidos e Israel, os judeus tradicionais usam Kipót de uma só cor, os centristas e sionistas usam um tricotado preso ao cabelo com um grampo ou clipe (ou até velcro!); estudantes de Yeshivá de direita usam Kipót grandes de veludo de cores brilhantes; os Chassidim usam as pretas com chapéus por cima; algumas crianças pequenas usam as coloridas. Com o aumento da liberdade e, especialmente, com a independência de Israel, a Kipá começou a ser usada como parte normal da indumentária judaica tradicional, e foi considerada aceitável em escritórios e outros locais de trabalho. Existem, porém, alguns observantes tradicionais que só colocam a Kipá antes de abençoar a comida ou rezar na sinagoga.

Sha’atnez

Existe uma injunção bíblica contra a mistura de linho e lã na fabricação e uso de roupas. Essencialmente, Sha’atnez é uma das leis para as quais não é fornecido o motivo. Muitos mestres brilhantes tentaram, durante os últimos 35 séculos, entender o sentido da mesma. Por exemplo, Maimônides cita o empenho bíblico em desenraizar o costume que os sacerdotes idólatras tinham de misturar estes dois materiais como símbolo de poder sobre os reinos vegetal e animal. Outros sustentam que é parte das proibições bíblicas contra misturar coisas – como arar com uma vaca e um jumento juntos, comer carne com leite. O judaísmo esforça-se resolutamente para manter a integridade dos animais, vegetais e outros materiais. Ou seja, Deus tem Seus motivos.

SÍMBOLOS NO LAR

Assim como a marca da Torá está impressa na roupa, também existe uma marca no lar, a Mezuzá. Literalmente, trata-se de um trecho da Torá colocado sobre o batente da porta para servir como um sinal para os residentes e seus visitantes. Ela transforma o movimento rotineiro e prosaico de entrar e sair de casa em um encontro com Deus e com o judaísmo. Não é de se admirar que os judeus sejam chamados de “viciados em Deus”. Os judeus planejaram para que Deus e Sua Torá fossem lembrados em todos os lugares e durante toda a sua existência.

Mezuzá

Os judeus afixam-na nos batentes das suas casas, quartos, escritórios e salões de jogos. A Mezuzá é uma pequena caixa contendo trechos da Torá inscritos à mão num pergaminho. Mezuzá, na verdade, é a palavra he­braica para batente da porta. É o sinal de que uma família judia está mo­ran­do naquela casa ou apartamento. A palavra Shadai (um acróstico pa­ra Deus, “O Guardião dos portões de Israel”) está inscrita na caixa da Mezuzá.
A Mezuzá é colocada a dois terços da altura total do batente da porta, do lado direito e, inclinada com o topo apontando para o interior da casa ou quarto. A caixa sem o pergaminho é inútil. Um pergaminho feito à máquina também não é válido. E o uso de uma Mezuzá pequena como pingente em um colar, em volta do pescoço, também não tem valor religioso. É costume dos jovens americanos, provavelmente para se identificarem e, até certo ponto, na medida em que mostra orgulho de seu judaísmo, é válido. Um pergaminho Casher enrolado em uma fita transparente é aceitável; a caixa ou invólucro só serve para proteger o pergaminho. A caixa, por si só, nada significa.

 

Texto extraído da obra Bem-Vindo ao Judaísmo, de Maurice M. Lamm.

Imagem de Andrew Shiva/Wikipedia (CC BY-SA 4.0)

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